sexta-feira, 14 de maio de 2010

Dia 25 de maio é o último dia para se inscrever no Projovem

A Prefeitura de Ibiporã, através da Secretaria Municipal do Trabalho, realizará o "Projovem Trabalhador", programa inédito de qualificação social e profissionalizante do Ministério do Trabalho, Emprego e Promoção Social. O curso é de longa duração e oferecerá formação a 300 jovens por um período de seis meses em atividades que prepararão para o mercado de trabalho. Podem se inscrever jovens de 18 a 29 anos que estejam desempregados. Por esse motivo, no decorrer da formação, receberão uma bolsa auxilio no valor de R$ 600,00, repassada em seis parcelas, conforme a comprovação de frequência no projeto.
Os interessados devem se dirigir com urgência a Agência do Trabalhador, na Avenida Dom Pedro II, 294, para reservar sua vaga. Maiores informações podem ser obtidas no 31720223.

Requisitos:

- Ensino fundamental completo ou Ensino médio completo ou cursando;
- Não pode estar cursando faculdade;
- Deve estar desempregado;
- Renda familiar de até um salário mínimo por pessoa.

Documentos:
- Carteira de trabalho e título de eleitor;
- Cópias do RG, CPF, histórico escolar, comprovante de residência e reservista.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Apreensão de habilitação e suspensão do ato de dirigir podem ser evitadas de acordo com a lei

Infrações de trânsito acarretam em multas, suspensão do ato dirigir, perca de pontos na carteira de habilitação, dentre outras penalidades. A fim de evitar tais constrangimentos o motorista deve ter discernimento e avaliar razões e comportamentos no trânsito. Porém existem situações onde a multa é aplicada e o condutor julga ser algo improcedente. Neste caso é coerente e ético o recurso?
Segundo o advogado Romildo Deodatto Júnior o recurso não fere a ética e é um direito assegurado por lei no artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso 55. “Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

O advogado lembra que recentemente muitas carteiras de habilitação foram recolhidas por falta de conhecimento dos motoristas, que deveriam pleitear a defesa. Ele cita que após assinar o auto de infração, o condutor deve se destinar ao órgão responsável ou procurar uma assessoria, em até trinta dias corridos, a fim de impetrar recurso. “Se comparado ao valor da multa e da penalidade a ser aplicada, o preço cobrado por uma assessoria é muito pequeno e muitos prejuízos e constrangimentos podem ser evitados”, afirma.

No entanto o cancelamento da multa não é possível devido o ato de infração ter ocorrido, além do servidor que a aplicou ter fé pública, presumindo a verdade de todos os fatos alegados. Entretanto cabe a defesa através de orientação, conhecimento técnico e jurídico. “No Código de Trânsito, Civil e resoluções existem casos de inconsistências. Entrar com um recurso não é antiético, pois a administração pública só pode agir nos moldes da lei para não existir arbitrariedade ou abuso de poder”, salienta.

Caso perca o recurso ou não exerça o direito de defesa dentre os trinta dias, a multa será imposta e até a data de vencimento, poderá ser impetrada uma nova defesa. Após o julgamento do 2º recurso há uma 3ª e última possibilidade antes da aplicação da penalidade. “Baseado na lei e de forma legal é possível cancelar multas a serem pagas e pontos na habilitação. Porém é necessário, ao levar uma multa, que se peça o auto de infração, de cor amarela ou verde”, explica.

Em relação às carteiras cassadas, Romildo afirma que muitos casos chegaram a esta situação pelo condutor não se ater ao prazo e deixá-lo expirar, sendo que a apreensão e suspensão do ato de dirigir poderiam ser evitadas através do recurso.

O funcionário do Detran-Londrina, Antonio Donini, aponta que em torno de 60 a 70% dos condutores multados solicitam recurso, procurando a isenção do pagamento ou amedrontados com a perca dos pontos e suspensão ou apreensão da carteira de habilitação.

Porém ele alerta que tudo isso pode ser evitado se a conduta no trânsito for observada e que se assuma as responsabilidades como prestar atenção nas vias, nos pedestres e na dúvida, parar e dar a preferencial.
Aos interessados por maiores informações prestadas pela assessoria de advocacia, deve procurar o Romildo no telefone 33398001 ou 99443322, em Londrina.

Vila Casoni: O bairro pioneiro de Londrina

Originalmente projetado para ser uma granja, bairro transformou-se em loteamento e mantém a arquitetura dos anos 30 e 40.

A Vila Casoni é um dos bairros mais antigos de Londrina, onde os mais velhos foram deixando seus lugares aos mais novos e aos que estão chegando. Ela foi objeto de pesquisa de antropólogos, que analisaram e detalharam a vida social do bairro, mostrando dificuldades enfrentadas pelos pioneiros. Os antropólogos desvendaram um cotidiano que representa a história do bairro e dos segmentos sociais, mostrando gente simples e conservadora.
A pequena vila, que antes de se tornar bairro era uma imensa chácara de fruticultura, foi plantada numa clareira aberta pelos colonos e desempenhou o papel de núcleo de um projeto de ocupação responsável pelo povoamento de um território de 500.000 alqueires, a região de Londrina.
A Casoni aos poucos foi cedendo lugar aos primeiros contornos urbanos, nas décadas de 40 e 50, dados pelos pioneiros paulistas, mineiros e nordestinos que traziam as tradições italianas, portuguesas, espanholas, orientais e eslavas, como o exemplo da família Ruis. A matriarca Carolina Ruis, de 70 anos, lembra que seu avô, João Ruis, chegou à cidade nos meados da década de 40, vindo de Joaquim Távora. Ele comprou partes das terras que hoje é o Jardim Ouro Verde, a fim de cultivar café.
Moradora da rua Tupiniquins, ela lembra que as dificuldades do norte pioneiro eram imensas e falta de trabalho obrigou a migração. “Meu avô tinha dez filhos e com a venda das terras, no atual Ouro Verde, comprou uma casa para cada um”, diz. Saudosista, Carolina conta que na época, as profissões eram as mais variadas possíveis, como a de serralheiro, devido à abundância de madeira, carroceiro, leiteiro e as plantações de café, predominantes no período, gerava empregos e riqueza para Londrina.
Com tristeza ela lembra que muito mudou nestes 58 anos, como as ruas de terra e as casas de madeira, que ainda persistem, conservando os ares coloniais da década de 30, quando a matéria prima era barata e abundante. Porém, algo é evidente: o crescimento da Casoni estagnou-se e a violência aumentou. “Em outros pontos de Londrina, como na Vila Brasil, os bairros cresceram. A Casoni acabou esquecida. Aqui não tem correio, lotérica ou bancos, demonstrando a falta de segurança. Até as tradicionais festas na igreja, as quermesses, não existem mais”, lamenta a pioneira.
As casas de madeira, que abrigam até quatro gerações, tornaram-se comércios familiares das mais variadas especialidades, como tinturarias, bares, mercearias, ferro velhos e bazares, como o de Cristina Moraes, de 42 anos e que guarda no rosto e nos olhos, traços eslavos. Nascida e criada na Casoni, ela viu poucas mudanças e percebe que o bairro mantêm aspectos de cidades pequenas do norte paranaense, marcados pela arquitetura dos anos 30 e 40.
Ex-aluna do Colégio Estadual Dr. Willie Davids, fundado em 1º de agosto de 1947 com o nome de “Grupo Escolar da Vila Casoni”, num prédio de madeira, construído pela Prefeitura de Londrina, com quatro salas de aula num terreno doado por Jorge Casoni, que até hoje permanece na rua Guaranis, Cristina guarda boas memórias do bairro. Mas, como Carolina, acredita que deve haver maiores investimentos num dos bairros que a porta de entrada do município. “A Casoni é um cartão postal de Londrina, onde tem a Rodoviária e o Estádio Vitorino Gonçalves Dias, o VGD”.
Os bares, empórios e armazéns podem ser entendidos como o mundo do homem e o espaço intermediário entre a casa e o trabalho. Assim é a visão do açougueiro Joel Vieira Gonçalves Sobrinho, de 58 anos e que mantém um dos últimos Box no Mercado Municipal da Vila Casoni. O mercado, inaugurado em 1963, recebeu a família Gonçalves em 1965. Antes disso, em 1934, seu pai chegou à Londrina, vindo de Paraguaçu Paulista e montou um açougue na esquina da Avenida Duque de Caxias com a Benjamim Constant. Sua mãe, a senhora Maria Tereza Vieira, que leva o nome de uma praça na avenida Inglaterra e duma creche nas proximidades do 2º Distrito Policial, foi uma das primeiras evangélicas a congregar na 1ª Igreja Presbiteriana Independente, localizada até hoje na rua Mato Grosso. “Na época era preciso chegar no açougue, aos fins de semana, às duas da manhã para cortar as carnes devido à antiga Empresa Elétrica de Londrina desligar o fornecimento de energia para manutenção”, relembra.
O mercado acompanhou os tempos áureos do café, quando prefeitos como o renomado advogado Hosken de Novaes, Dalton Paranaguá, José Richa e Wilson Moreira vinham pessoalmente comprar frutas, carnes e verduras, além de verificar o funcionamento e conversar com correligionários a respeito da política londrinense. “Hosken de Novaes, apesar da posição de prefeito, era um sujeito simples, que conversava com todos”, diz Joel.
O barracão que um dia abrigou dezenas de produtores e preserva uma estrutura de madeira viu seu declínio na década de 90, quando os filhos dos produtores, compostos na maioria por orientais, migraram para o Japão. Com isso, os pais não puderam administrar as propriedades e boxes ao mesmo tempo, diminuindo as bancas até seu fim. Outro episódio triste foi este ano, um dia antes das eleições do “3º turno” em Londrina, quando um vendaval destelhou praticamente metade do mercado. “Esperamos 60 dias para o Poder Público tomar as providências”.
Esperançosos pela mudança, os dois comerciantes locais esperam que o município olhe mais, não apenas para o barracão, mas também para a Vila Casoni, atualmente parada no tempo.

domingo, 9 de maio de 2010

Temos uma identidade cultural?

De colonização recente, falta ao Norte do Paraná um ícone que represente sua história, cultura e tradições.

Tendo menos de 100 anos, o Norte do Paraná pode ser considerado uma miscelânea de culturas e etnias que vão desde a colonização japonesa, italiana e alemã, transitando pelos nordestinos, paulistas e mineiros. Mas todos, independente de onde vieram, tinham um objetivo comum: lavrar a terra vermelha.


Assim, o Norte do Paraná desenvolveu-se, sem uma etnia definida e um ícone especifico, mas tendo o café como a principal fonte trabalho e renda dos agricultores. Junto com o café e os agricultores, vieram às cidades, a estação de trem, a igreja e a rodoviária, que tanta gente recebeu. Mesmo após as geadas e a industrialização, a região preserva a cultura da terra, onde as lendas estão ligadas ao matuto e ainda existe o inconfundível sotaque do caipira. Mas, se fossemos construir uma identidade cultural ou ícone do Norte do Paraná, qual seria o modelo? Num local, marcado por agricultores e camponeses, por que não, essas pessoas, os maiores geradores das riquezas, não serem o símbolo de uma cultura?

Fatos e fotos ilustram esta trajetória e eles devem ser expostos para as futuras gerações se identificarem e construírem uma tradição genuína.

O secretário de cultura, Júlio Dutra lembra da nossa colonização, que transcende o ícone rural, visto nos cidadãos e moradores das propriedades afastadas da área urbana. Para o secretario, isso deve ser aproveitado, exemplificando a construção da nossa igreja, feita com doações de sacas de cafés por agricultores e também pela montagem do espetáculo em homenagem a rota turística do café. “Através de um romance, contaremos a vinda de nossos imigrantes em busca do ouro verde. A região do Norte do Paraná se deu por causa do café e o que prevalece na região é a agricultura, gerando a nossa riqueza”. Dutra ressalta o uso, na peça, de roupas e traços rurais comuns a todos nós e que nos diferenciam de outros lugares, criando uma identidade única e especifica do Paraná.

Há mais de 40 anos em Ibiporã e vendo as diversas transformações na sociedade, o artista plástico Henrique Aragão afirma a idéia de que o Norte do Paraná seja muito novo, com poucas tradições e que seja um local a ser desbravado, numa época em que a sociedade é globalizada e muitas culturas estão fragmentadas. O artista lembra que o resgate destas características e a personificação deste ícone podem ser encontrados não muito longe, mas aqui pertinho, nas cidades no Norte Velho como Jacarezinho, Abatiá, Uraí ou Santa Mariana. “É só fazer uma visita a uma feira destas cidades, onde será possível encontrar uma pessoa simples, mas que represente a imagem do norte do Paraná. Nestas comunidades rurais se mantém algumas tradições, principalmente nas crianças. Elas encontram algumas resistência dos pais, porém as mesmas tem acesso às escolas rurais, com ensino voltado ao cultivo da terra e ao trato com os animais”. O artista ressalta que esta cultura popular e genuinamente paranaense está no interior, cabendo a nós não sermos nostálgicos, mas sim, cumprirmos a missão de criar caminhos, através da comunicação, para trazermos isso ao conhecimento de todos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A perda dum líder

O líder palestino Iasser Arafat morreu, devido à falência múltipla dos órgãos, após 14 dias internado em Paris. A morte de Arafat significa uma mudança histórica para o mundo, já que o mesmo foi por mais de 40 anos o líder pela criação do Estado Independente Palestino entre Gaza e Cisjordânia, local ocupado por judeus do estado de Israel.
Sua morte implica diretamente em maiores dificuldades para o processo de construção de paz na Faixa de Gaza, local de maior perturbação nos conflitos e onde Israel conta com poderio militar e político que oprime.
A morte do líder representa a perca das forças de militantes, refugiados, desabrigados e de pessoas que foram expulsas de suas terras e que atualmente lutam pelo processo de independência em Gaza. É possível que grupos terroristas entrem num processo de paz, ou período de armistício jamais visto, entretanto as expectativas do surgimento dum novo líder para a paz palestina, não é visto.
Anunciada a morte, se vê expectativas no Ocidente para que seja reforçada a segurança nos locais de conflito, isso por entender que os países árabes filiados a OPEP (Organização Palestina de Exploração de Petróleo), são alvos constates de atentados, que em casos extremos causam mortes de inocentes e destruição de cidades inteiras. Fica claro que a morte de um líder pacifista de tamanha importância deixa uma lacuna difícil de reconstruir e abre os olhos do ocidente para os possíveis focos de guerra civil e atentados que possam desestabelecer a harmonia.
Portanto, é de se esperar com mais receio às atitudes que vierem do Oriente Médio, devido aos constates conflitos e pela indecisão no processo de paz. Além da perca de tamanha autoridade representar maiores implicações para as negociações pacifistas contra a escalada do terror.

Crime e Castigo – Fiodor Dostoievski

1) - Publicado em 1860, 'Crime e Castigo' é a obra mais célebre de Dostoievski, onde Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado perambula por São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria - grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História. Raskolnikov angustiava-se no seu pequeno quarto, na verdade uma gaiola desbotada que o sufocava, onde pensava como um ser dotado de inteligência reconhecidamente superior, como a dele, estava reduzido àquela vida miserável, sem tostão e sem futuro enquanto que, naquela mesma cidade de São Petersburgo, a capital do império russo, à bem poucas quadras dali, uma velha usurária, chamada Aliona Ivanovna podia entregar-se livremente à exploração de desgraçados como ele. Porque não eliminar aquele ser parasitário, inútil, e utilizar-se do seu dinheiro para sair daquela situação apremiante, salvando também sua mãe e sua irmã, reduzidas ao opróbrio? Foi nestas circunstâncias terríveis que o jovem estudante desenvolveu sua doutrina do "direito ao crime", na qual todo aquele que se sente além das convenções tradicionais acerca do bem e do mal, que se percebe mais forte do que os demais homens, na verdade tem "direito a tudo", inclusive o direito de eliminar os que considera estorvo e prejudicial ao seu objetivo, pois o homem extraordinário deve, obediente às exigências do seu ideal, "ultrapassar certas barreiras tão longe quanto possível". A narrativa é ilustrada por becos, tabernas e pequenos cômodos, povoados de pessoas que lutam para preservar a dignidade e que subsistem à margem da sociedade. Dostoievski retrata homens e mulheres rejeitados, sufocados e perdidos no mundo do século 19 onde são vítimas das diferenças sociais da Rússia daqueles anos. Exemplos como a prostituta Sônia e seu pai Marmelodov mostram que a Rússia e sua população estavam entregues a pobreza e a miséria.
A ligação de Raskolnikov com sua família era distante. Sua mãe, Pulkhieria Aleksandrovna, enviava-lhe dinheiro para custear as despesas com estudos. A irmã Dúnia, junto com a mãe foi a São Petersburgo para viver com Raskolnikov, pois Dúnia era noiva de Piotr Pietrovitch, uma pessoa bem mais velha que ela. No mais, o personagem era marcado por desavenças por ser contrário ao casamento da irmã. Outras ligações intimas do personagem era com o estudante Razumikhin, que sempre que podia o ajudava em seus estudos e principalmente financeiramente. O personagem era de poucos amigos e considerava solitário por não compartilhar com os costumes dos moradores de São Petersburgo. O desfecho é com Raskohnikov se entregando à polícia, após muita investigação e, na prisão é condenado há viver oito anos na Sibéria, onde Sônia aguarda sua liberdade. A mãe do personagem morre e sua irmã Dúnia se casa com Razumikhin.
2 a) - Dostoievski tenta mostrar o indivíduo dentro de seu habitat sócio-histórico, onde a particularização do homem dentro do quadro da sociedade o descreve como um ser inquestionavelmente, brilhante, versátil, inteligente e imaginativo, embora a perversão o tornou sórdido. Dostoievski extravasa sua elaboração inconsciente e criatividade no feitio consciente, deliberado, de sua obra, onde o ímpeto da criação inconsciente do seu mundo psicológico. As contradições, os desencontros, as perturbações, aflorem de modo límpido, reconhecíveis. Está em trazer para a tona o outro lado da consciência, em revelar a complexidade terrível de nosso mundo interior. Sua trama cotidiana é refletida pelo discurso alucinado e veemência desordenada, fluxo contínuo de voz e fala sempre transbordante, além de trazer narração de vazios, reentrâncias e saliências. Raskolnikov se mostra no mundo em movimento pela sua angústia e desordenamento que não permite perspectivas. É um homem perturbado mentalmente e que tem de se haver com seu interior medíocre e insensato, reflexo talvez de um mundo exterior medíocre e insensato. Ele vive em São Petersburgo, lugar onde o abafamento e o mal cheiro causado pelo verão afetou de modo súbito e desagradável os já abalados nervos do jovem. Porfiri, afirma a Raskolnikov que toda a questão do artigo consiste em que todos os indivíduos estariam divididos em ordinários e extraordinários. Este pensamento é um dos componentes centrais do personagem. Bakhtin chama de limiar este limite, como um muro de pedras, podendo ser entendido como as leis da natureza, ou as conclusões das ciências naturais, ou a matemática, ou o racionalismo. De certo é que há um limite ao homem, e cabe-lhe parar diante desse limite e igualar-se ao resto da manada ou ultrapassá-lo, ainda que á custa de terríveis sacrifícios. Na obra encontramos duas afirmações capazes de suscitar diversos questionamentos, especialmente diante da violência que estamos vivenciando no cotidiano de nosso país. O autor diz que "Não é repelindo o homem que ele se corrige; e muito menos um rapaz. Com o rapaz novo é preciso o dobro da prudência". E prossegue, afirmando: "...o meio significa muito na criminalidade..." A afirmação surpreende pela sua atualidade, apesar de ter sido apresentada há muito tempo atrás.
2 b) - "Nina", de Heitor Dhalia, baseado em Crime e Castigo, tenta ao estilo pós-moderno criar uma narrativa própria para explicar como o homem, a partir da pobreza e da miséria, gera situações que podem terminar em desgraças. Nina, a personagem principal do filme, distingue os ordinários dos extraordinários, idéia presente no original. Mas o personagem do livro comete um crime para levar a cabo seus estudos. Crendo ser um extraordinário, matar é algo então justificável. Nina é uma é uma boçal que não honra o aluguel há meses, parecida com Raskolnikov, além de ser uma jovem que passa seus dias perambulando pelo submundo paulistano. Devastada por seu próprio jeito de encarar a vida, ela é humilhada por Eulália, dona do quarto que ela aluga. Fazendo tudo para manter seu emprego de garçonete e não perder suas referências, ela sofre sérias afrontas da proprietária, que viola sua correspondência, rouba o dinheiro que a mãe envia e ainda tranca a geladeira com medo de ter sua comida roubada pela moça. Em seu universo triste e particular, Nina desenha compulsivamente e parece não se ajustar ao cotidiano agitado da metrópole. Seu jeito introspectivo e tolerante quanto às maldades de Eulália muda quando a jovem é despejada. Apresentada ao novo morador da casa, ela toma uma atitude inesperada, que terá conseqüências arrasadoras para o restante de sua existência. Arrogante, se vê acima dos ordinários. Nina seria uma ordinária, e a premissa dostoievskniana não passa de um timbre. A trama consegue traduzir o olhar de Nina e traz ao mundo o distópico que faz de "Nina" necessariamente uma pessoa criminosa. Sua adesão à autocomiseração é covarde e jamais questiona a idéia da vilania da metrópole.
3 a) - O Momento Histórico e as características do período foram muito semelhantes em quase toda a Europa. A desilusão com o fracasso dos ideais do liberalismo, a miséria das cidades e a crise da produção no campo, as más condições de vida da maioria da população, contrapostas aos privilégios da burguesia, implicam pela visão objetiva e desiludida da realidade. Naquela época a Rússia vivia uma das piores crises econômicas de toda a sua história. O atraso econômico e cultural do país e as péssimas condições de vida dos camponeses e operários serviram de estímulo para que os autores Realistas Russos, muito influenciados pelo Realismo do resto da Europa, utilizassem a literatura como forma de critica e instrumento de denúncia social. Dostoievski escreveu Crime e Castigo, como representação de um drama moral de grande profundidade psicológica. O autor que foi preso e condenado à morte foi anistiado em 1859 e passou a dedicar-se ao jornalismo.
O narrador apresenta Ródion Ramanovich Raskolnikov e esclarece as condições psicológicas e sociais em que se encontra: vivendo na pobreza, num país que vivia as amarguras do sofrimento.
b) - “Crime e Castigo” se torna atual ao mostrar os aspectos que move a sociedade, como o dinheiro. A transposição no texto jornalístico e no filme da São Petersburgo do século 19 para a São Paulo de hoje não sofre muitas mudanças. Mesmo porque, apesar da diferença no tempo e na geografia, existe um ponto de contato fundamental entre as cidades: as duas são terras de contrastes. A São Petersburgo de “Crime e Castigo” (1866) era uma cidade com ricos palácios ocupados pelos poderosos locais, cercados por cortiços miseráveis onde se amontoavam bêbados, bandidos e prostitutas. Não é preciso detalhar muito a comparação para encontrar semelhanças com a São Paulo de hoje. Raskólnikov, o pequeno-burguês sem rumo que protagoniza “Crime e Castigo”, circula por casas, becos e tavernas fétidas da capital russa. Não seria difícil encontrar uma boa tradução visual desse universo na São Paulo de hoje. Nina é uma garota do interior que vive de bicos e não consegue pagar o aluguel, se move por apartamentos, lanchonetes e clubes que parecem saídos de uma revista de decoração. Raskólnikov planeja matar uma velha usurária não apenas porque precisa de dinheiro, mas também porque quer provar que é um ser excepcional, acima do bem e do mal, tal como César ou Napoleão, grandes assassinos absolvidos pela História. Para ele, seu ato de crueldade poderia ser justificado pela natureza vil da atividade da usurária e também pelo bem que poderia fazer à sua família com o dinheiro que roubaria. Depois do crime, porém, suas teorias são derrubadas pela culpa. Já a motivação de Nina para desejar a morte da senhora que lhe aluga um quarto está longe de ser metafísica. Ela parece querer assassinar sua senhoria porque esta lhe cobra com justiça o aluguel atrasado, porque é uma velha rabugenta e pão-dura. Há muitos motivos, mas nenhuma moral para os atos de Nina.
c) - As relações de autoridade apresentadas por Fiodor Dostoievski, tem como base o processo em que Porfiri Pietrovitch abre inquérito para solucionar o assassinato cometido por Raskolnikov. Porfiri expressa sua vontade e Raskolnikov se comporta de acordo com ela. Porém há uma qualidade especial: essa obediência de um lado ao outro se dá sem confrontos ou resistências, devido a crença na validade e na importância da vontade. Em outras palavras, acredita-se na legitimidade dessa vontade. A autoridade é, portanto, fruto de uma relação social de dominação legítima. A idéia de autoridade pode ser resumida como um poder fortemente estabelecido, legítimo e limitado. Com relação a família, se mostra presente nas personagens, todo mosaico possível de acepções do humano: os abismos interiores de desejo e culpa, os determinismos materiais e a tentativa de transcendê-los social e espiritualmente, as utopias políticas e religiosas, a fronteira tênue entre sanidade e demência, lucidez e possessão. Aquilo que os une, no entanto, é justamente o que os separa. A percepção do drama humano em sua totalidade fraturada, que se verifica em Dostoievski, aponta para falência. Outros aspectos mostram famílias desestruturadas, como a de Marmeladov e Sônia, que tem pouco dinheiro para viver e o que resta o pai gastava com bebidas. A família de Raskolnikov se mostra unida, apesar das dificuldades. Esta relação mostra que os russos estavam sofrendo pela pobreza. A solidariedade está presente em diversas passagens, como na qual Marmeladov morre e Raskolnikov dá dinheiro para Sônia poder comprar comida e ajudar no enterro. Não só o personagem principal, mas vários outros se mostram solidários naquele período. O oportunismo se mostra com o noivo de Dúnia, que queria aplicar um golpe na mesma e acusou Sônia de cometer um roubo. A saúde dos personagens do livro é muitas vezes citada. Os problemas causados pela bebida são o que mais aflige os personagens, além de mostrar um Raskolnikov atormentado por problemas mentais após ter matado a velha agiota. A agonia é muito mostrada, onde o personagem sofre alucinações e ter problemas alimentares causados pelo sofrimento e angústia. Por fim, as relações sociais estão presentes, sendo que o personagem principal se desentende com freqüência com outros personagens.
3) – Tema a): O sofrimento da juventude sem dinheiro que tem que ir a Universidade: A associação com Raskolnikov, que vivia em São Petersburgo é próxima; b) O alcoolismo: Marmeladov era constantemente visto bêbado, problema que desestruturou sua família; c) Latrocínio: Raskolnikov matou a agiota para roubar, mostrando um ato de latrocínio.
Do texto: Sofrimento da jovem: a velha escravizava Nina, fato que a levou a cometer o homicídio; A cidade grande e suas contradições: Nina veio do interior para São Paulo, onde não conseguiu se estabelecer e teve que desenvolver trabalhos não convencionais. c) A prostituição: Nina, para sobreviver é obrigada a se prostituir.

Texto: Glória e desdita de um dono de butique, de Roberto Pompeu de Toledo

Publicado pela Revista Veja de 6 de julho de 2005

O texto de Roberto Pompeu de Toledo, publicado pela Revista Veja, sobre o atual contexto político brasileiro e as tribulações vividas pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, narra de forma coesiva e coerente, sobre uma parte da vida, história e episódios recentes de Dirceu. Entretanto, as palavras de Toledo dão ao escândalo o caráter de “pastelão“. Toledo é coerente e coesivo não só quanto a questão política, mas também ao explicar a “crise de identidade” vivida por Dirceu. A coerência se torna evidente quando o autor usa a linearidade para narrar o momento da renuncia, passando pela entrega do ministério a sua sucessora e chegando a época em Dirceu viveu na clandestinidade. Sem abstrações, ele narra um período real, sendo de forma coerente e coesa, para que o leitor não se perca, pensando que pode ser algo falso, mas sim, o fruto de pesquisas e leituras, que dão mais relevância ao leitor. Foi nesta época, segundo Toledo, que o ex-ministro, que hoje é alvo de várias denúncias na CPMI dos Correios, adotou o pseudônimo de Carlos Henrique Gouveia de Melo e se tornou proprietário de uma loja de roupas masculinas.
O texto em si não carrega nada de imaginário ou fantástico, mas é repleto de situações e afirmações que nos levam a um sentido real vivido pelo personagem José Dirceu. Fato concreto que é possível de ser encontrado no decorrer do ensaio. Além disso, o nosso conhecimento de mundo nos possibilita a interpretação dos acontecimentos a partir do momento em conhecemos algo ligado a nossa cultura, que obviamente seria a perseguição política ao qual José Dirceu foi submetido. Hoje o contexto histórico e político do Brasil, remonta uma crise política sem precedentes, ao qual o PT, José Dirceu e o publicitário Marcos Valério, sujeito ao qual Toledo cita no final do texto, estão no centro dos holofotes da mídia. Outro ponto observado é quanto aos conectivos de ligação sintática e as seqüências lingüísticas com total lógica. Todas as sentenças tem sentido próprio e são objetivas quanto a seu caráter. A forma lingüística apresentada por Toledo, dissertação e narração, são cercados por sentido unitário e global, mantendo sempre a seqüência das idéias. A afirmação e aceitação disto é tão clara, que podemos usar como exemplo uma parte do texto, que diz o seguinte: “Da biografia do ex-chefe da Casa Civil, caso alguém não se lembre, consta um período de quatro anos em que viveu clandestinamente na pequena Cruzeiro do Oeste, no Paraná. Fazia-se passar por um empresário sem nenhum interesse pela política, tanto que, quando o viam com um jornal na mão, estava sempre aberto na página de esportes”. Este trecho têm sentido próprio, sem obstruções ou falta de conectivos as palavras. Há entendimento do texto para seus leitores e usuários, pois a comunicação presente não é difícil de ser interpretada, que no caso seria José Dirceu se passando por empresário no Paraná.
Quanto a coesão, há situações que evidenciam sua prova. A estrutura linear possibilita que a coesão de ao leitor entendimento do conteúdo. Outro ponto da coesão, é a prova que a mensagem expressa pelo emissor não tem nenhum ruído identificado, possibilitando entender o que acontece, seus desdobramentos, conseqüências e num raciocínio mais lógico, ter a certeza que o ensaísta explica no texto algo que aconteceu na vida de José Dirceu.

Programa de educação fiscal visa sensibilizar cidadão quanto a função do tributo

Em tempos de Caixa 2, sonegação fiscal e de impostos, as Receitas Estadual e Federal (Estado e União), criaram o Programa de Educação Fiscal do Paraná, com objetivo de estimular a mudança de valores e atitudes fiscais, propiciando às pessoas o pleno exercício da cidadania e contribuindo para a transformação da sociedade. Outros objetivos é sensibilização para a função e potencialidades socioeconômica do tributo; levar conhecimento sobre administração pública; incentivar o acompanhamento da aplicação dos recursos públicos; e criar condições para uma relação harmoniosa entre o Estado e o cidadão. A implantação do programa conta com apoio do Ministério da Fazenda e da Educação, devido o programa percorrer escolas, universidades, instituições públicas e privadas e a sociedade em geral. Entre as atividades, consta a Gestão democrática dos recursos públicos, Orçamento participativo, Fóruns Orçamentários e Ações deliberativas e fiscalizadoras dos Conselhos partidários e de políticas públicas.
Segundo o professor do Departamento de Ciências Contábeis da UEL, Claudecir Paton, o pagamento de imposto é obrigatório em todas as esferas. “O imposto é usado na educação, saúde, rodovias, bem-estar social, etc”. Ele diz que a emissão da nota fiscal é importante para acabar com a sonegação, aumentar a arrecadação de impostos e inserir a educação fiscal como tema social contemporâneo. “É a partir da prática incorreta que surge o caixa 2 e a corrupção fiscal”. Paton afirma que o Programa visa educar a sociedade para se tornar mais exigente. ”Para cumprir as atividades que devem ser oferecidas aos cidadãos, precisa arrecadar, administrar e aplicar os recursos públicos com justiça e para isso é preciso o cidadão estar informado”.
O professor lembra que o cidadão não tem consciência de seu papel como contribuinte. “Sem consciência de que financiamos o Estado, não assumimos uma posição fiscalizadora contra a corrupção, sonegação fiscal e o desperdício. Por isso, a Educação Fiscal deve ser um do pilares do processo educacional e o exercício da cidadania por meio da participação popular no processo orçamentário e controle democrático da gestão pública, onde deve haver o sentimento coletivo de repulsa social contra sonegadores”.
Quanto a Lei de Responsabilidade Fiscal, que está inserida no Programa de Educação Fiscal, Claudecir Paton é claro ao dizer que a mesma deve ser feita com transparência e ficar a disposição da população para consultas, citando o exemplo de São Sepé (RS). A cidade, de 50.000 habitantes, conta com a elaboração de um mapa social da cidade; registro individual dos indivíduos e dos projetos; organização do 3 setor; e definição dos indicativos de pobreza para criar soluções.
Para quem se interessar pelo assunto, pode acessar o site: www.fazenda.pr.gov.br e procurar por Educação Fiscal.

Apesar de muito antiga, a profissão de “lambe-lambe” resistente ao tempo

Eles são tão antigos, que certamente, o pesquisador que quiser mais dados e imagens sobre Londrina, irão encontrar nestas pessoas valiosas fontes. São eles os “lambe-lambe”, nome popular dado aos fotógrafos que ficam na Praça da Bandeira, em frente a Catedral. Dividindo espaço com artesãos e ambulantes, o fotógrafo “lambe-lambe” cobra a bagatela de R$ 5,00 para fazer o seu retrato. E se o sujeito quiser, a foto pode ser datada, guardando-a para a posteridade, além de poder se observar no espelho, para pentear o cabelo ou passar a maquiagem. Messias Bezerra trabalha como fotógrafo da praça, há mais de 30 anos. “Com as novas invenções, estúdios e máquinas modernas, o trabalho diminuiu, mas ainda é grande o número de pessoas que vêm até a ‘cidade’ para tirar foto”, afirma Messias. Ele lembra que na época que começou a trabalhar, os recursos eram poucos e que hoje há mais material para fazer as fotos. Quanto ao apelido de “lambe-lambe”, Messias Bezerra diz que o nome é devido a um fato curioso do ofício. “Antigamente, para revelar a fotografia em laboratórios era trabalhoso e o processo poderia custar caro. Então, os fotógrafos tiravam a fotografia impressa numa chapa de vidro, depois o profissional “lambia”, literalmente, “lambia” o papel fotográfico e o pressionava contra o vidro. Pronto, a imagem estava impressa no papel, pronta ser recortada e dado ao cliente”, falando isso com muito orgulho de ser de uma época em que nem se imaginava que poderia existir a câmera digital. Antes de ser fotógrafo, Messias Bezerra trabalhou em fazendas da região, devido a sua família ser de Águas Belas, Pernambuco. Mas para quem pensa que o trabalho do “lambe-lambe” é resumido em tirar retratos de pessoas nas praças, está enganado. Entre as outras atribuições, fotografa casamentos, faz reportagens e participa de Bienais de Fotografias. Messias disse que nos casamentos existe até um certo “glamour”, pois os noivos e os convidados gostam faz poses para as fotos e também, pela revelação ser instantânea. Para trabalham em um casamento, que dura em torno de cinco horas de trabalho, ganha em torno de R$300.00. Mas segundo Messias, é a Bienal da Fotografia, que ocorre em Curitiba todos os anos, que lhe possibilita mostrar a sua arte aos que gostam e querem aprender mais sobre a fotografia. “O trabalho em uma Bienal é simples, tem que explicar para visitantes e estudantes, como funciona a máquina e como trabalham. Ao todo são seis fotógrafos lambe-lambe que trabalham na Bienal. Mas o trabalho é compensador devido ao interesse das pessoas sobre a nosso trabalho”. Apesar de parecer um trabalho arcaico e ultrapassado, a máquina de Messias Bezerra tem muita resistência, apesar do tempo de uso. Com uma máquina construida por ele mesmo, Messias usa filme ASA 125, devido as fotos serem 3x4 e de cor preto e branco. Apesar de parecer um trabalho pouco qualificado e de menor valor, o lambe-lambe está sempre se aperfeiçoando e ensinando muitas coisas para quem queira ir lá conhecer um pouco de seu trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jornalista, ao veicular suas idéias e análises nos jornais, não está livre de “erros”, pois são opiniões subjetivas. Visto isto, mais especificamente no caso do Valor Econômico, ele deve ficar atento ao que o público leitor pretendo ler e com que expectativa de opinião, porém, nunca fugindo dos preceitos declarados pela linha editorial do próprio jornal. O editorial, por mostrar a opinião do jornal, sempre estará municiado de informações que se apegam aos valores, afinidades ideológico-partidárias ou financeiras de quem representa a empresa jornalística, ou seja, o editor. Sejam estes valores mostrados de forma explícita ou implicitamente. Sendo assim, o Valor Econômico, ao retratar as bases, o desenrolar das crises e, principalmente, os efeitos e defeitos da política brasileira, não estará isento de críticas adversárias, como qualquer outro jornal, mas torna-se suspeito por declarações e tendências políticas manifestadas durante a abordagem de determinados assuntos. Por estar dirigido a um público elitizado, comprometido com o capitalismo e que age conforme os interesses do sistema capitalista, sem dar valor a questão social mais geral, podemos desconfiar do que é publicado pelo Valor Econômico, pois, do contrário, corre-se o risco de ter uma opinião manipulada e controlada, de acordo com os objetivos editoriais pré-estabelecidos. E isto é o que deduzimos a partir de nossa análise, enquanto proposta do jornal Valor Econômico, ou de capacitar seus leitores que venham a compartilhar dessa mesma opinião conservadora.
Chegamos a essa conclusão, podendo afirmar que o Valor Econômico é um jornal movido e motivado por interesses não muito abrangentes e direcionados a um seleto grupo ao qual é ligado política e ideologicamente. Por isso, o leitor, ao observar uma crítica num jornal voltado à elite, deve procurar saber quais são os motivos que levam o jornal a tal crítica e se a mesma pode somente afetar seus “inimigos” e isentar totalmente seus aliados. O jornalista e leitor sempre deveriam agir como verdadeiros fiscais dos jornais e do Poder Público para que não houvesse injustiças com os menos favorecidos. Infelizmente isso não ocorre. No caso do Valor Econômico, o que pudemos notar em suas páginas, e mais especificamente em seus editorias, é que não há esse tipo de interesse em converter um público leitor a um público crítico-social. O jornal não trabalha com essa finalidade de formação e/ou capacitação política mais transformadora. Para acrescentar mais argumentos à idéia, não podemos esquecer de citar que práticas imorais adotadas por lideranças políticas e abordadas pelo Valor Econômico, como a corrupção, o patriarcalismo, as alianças “esdrúxulas”, que constituem o poder político representativo, entre outras ações, não podem passar em branco sem as devidas punições aos contraventores. Por isso, acreditamos que o jornalismo, no seu dia a dia, por meio de seus profissionais, seria a melhor forma de contribuir com a sociedade civil, acrescentando conhecimentos mais organizados, proporcionando uma formação cultural diferenciada, ainda que implicitamente, através de suas páginas e editoriais. Com isso, a impunidade não tomaria conta da Administração Pública e veríamos, pelas páginas dos jornais, todo um comportamento ético seguido por todos. Sem, é claro, não se deixando levar pelas “paixões” políticas, mas levando em consideração o jornalismo ético e as medidas coerentes que dariam mais respeito ao mesmo. A análise crítica de editoriais abre um leque de perspectivas quanto ao trabalho a ser desenvolvido pelo jornalista e as responsabilidades a ele atribuídas. Devido à questão ética que domina os debates, a população, independente do jornal, podia criar mecanismos de participação para permanecer omissa e passiva diante das dificuldades e da imoralidade em que se encontra nosso atual sistema político. Mesmo assim, com o fácil acesso à discussão, são cada vez maiores as possibilidades de mobilização e de tomadas de posição para as devidas profilaxias contra a impunidade. Porém, para que isso se torne realidade, o jornalista e os editoriais, jamais deveriam omitir a verdade e procurar não se associar a um segmento ideológico-partidário, ou econômico. Municiado disso (da verdade e da dissociação), o jornalista deveria mostrar aos seus leitores, as conseqüências que as medidas tomadas por quem está no poder, seja na esfera política ou econômica, causaria em sua vida. Devido o editorial ser a parte do jornal que tem mais responsabilidade sobre a opinião atribuída, devemos sempre prestar atenção e sermos críticos quanto ao que é escrito. Como dito antes, a falta de isenção dos jornais e orientação editorial movida por interesses (políticos ou econômicos) dá ao leitor a sensação de que não há ética e nem compromisso, mas sim a colocação de um interesse em primeiro lugar. No caso do Valor Econômico, um jornal elitizado, as perspectivas são as mesmas, devido o jornal estar voltado para as elites econômicas, ser um árduo interventor do capitalismo e não levar em consideração a questão social, mas sim a do lucro, que se mostra através da exploração dos trabalhadores mais pobres. O jornalista, em meio à esta desfavorável situação, em que os valores econômicos têm mais respaldo do que os valores sociais, deveria questionar a posição do jornal, o que é veiculado e o que isso mudaria em termos de concepção do leitor, que, geralmente acaba confiando naquilo que é passado pelo editorial. A partir disso, seria avaliada a seriedade do jornal e em que ele contribuiria para a conscientização política e social dos cidadãos. Portanto, ao leitor dos jornais, caberia a conscientização, de que o jornalismo e os editoriais não trabalham com a isenção, mas são movidos por interesses próprios, como, por exemplo, o capitalismo.

Em relação aos editoriais, eles abordam as questões políticas atuais que mobilizam e criam transformações no país. A partir disso, concluímos que os editoriais são de extrema importância no jornalismo, desde que trabalhados com seriedade e compromisso ético, para que não sejam injustos ao mostrarem, em suas páginas, uma opinião contrária aos interesses públicos mais gerais. Além disso, não podemos nos esquecer que os editoriais, ao veicularem uma idéia, criariam na sociedade argumentos que serviriam ao debate da opinião pública. Por isso, ao desmoralizar um político ou inferir inverdades, ele estaria lançando no debate algo que não seria relevante e que somente tiraria o crédito de quem não fosse seu aliado, independente sua linha ideológico-partidária.

Concluindo, vimos no jornal Valor Econômico, um veículo que exerce muita influência sobre os meios políticos e econômicos. Tudo usado em benefício da própria organização e de quem compartilha de seus objetivos políticos, financeiros e administrativos. Este tipo de comportamento deixa claro a total falta de seriedade do Valor Econômico, enquanto veículo de comunicação desprovido do caráter social, prejudicando, em última instância, o jornalismo e comprometendo toda a categoria profissional. Os profissionais que se permitem atuar neste tipo de imprensa, acredita-se, por conseqüência, estarão desenvolvendo um trabalho totalmente inócuo em relação às expectativas sociais mais gerais.

3.5 – “Governo retoma iniciativa, mas paga um preço alto”

O Valor Econômico, no editorial de 30 de outubro, diz que o Governo, ao eleger Aldo Rebelo (PC do B – SP), para a Presidência da Câmara dos Deputados, mostrou que está muito “vivo” e acaba de vez com as possibilidades da oposição impetrar um pedido de impeachment do Presidente Lula. Além disso, conseguiu eleger ao cargo mais alta da Câmara, um “aliado histórico” da esquerda, que têm concepções ideológicas bem diferentes de Severino Cavalcanti.
Porém, o editorial afirma que a vitória do Governo não foi fácil, acabando por fim, numa diferença de apenas 15 votos:

“O segundo turno da disputa entre um candidato entre um candidato do Governo, Aldo Rebelo, e um contra ele José Thomaz Nonô, mostrou uma oposição diferente. Jogando agora contra uma ação mais articulada do governo no Congresso, a bancada oposicionista, sem o apoio do baixo clero, perdeu a eleição, mais conseguiu dividir a Câmara praticamente ao meio – foram apenas 15 votos de diferença entre s dois candidatos. Atribua-se ao Executivo a mudança de qualidade da ofensiva oposicionista: o PT e o Governo, ao longo dos últimos sete meses de crise, ofereceram a ela discurso e coesão”.

A partir da citação acima, concluímos que a oposição ganhou muita força neste período de crise, mas mesmo assim, não conseguiu vencer o Governo na eleição. NO entanto, o Valor Econômico, conclui a idéia, afirmando quer tal vitória só foi capaz, devido a aliança com o “baixo clero” (deputados de pouca representatividade mas que têm uma grande quantidade de votos) e pelo clientelismo. Pois, ao prometer a liberação de verbas a quem o apoiasse, o Governo utilizou-se da prática pouco ética. “Mas um fato tem que ser destacado da prescrição genérica de se abolir o clientelismo. Aldo Rebelo tem a obrigação, agora, de dar ao país garantias de que os mandatos dos deputados envolvidos em corrupção não entraram nas negociações. Afinal, Rebelo tornou-se parte da história ao testemunhar espontaneamente em defesa do deputado José Dirceu (PT-SP) na Corregedoria. A efusiva alegria dos deputados sob investigação, inclusive o próprio Dirceu, com a sua vitória, potencializa as dúvidas. Para afastar suspeitas, Rebelo terá de agir, nos processos contra esses parlamentares, com rigor dobrado. Será sua maior prova de independência em relação ao Executivo.”

3.4 – “A falência de uma coalizão esdrúxula”.

O editorial de 27 de outubro trata de uma questão política de essencial valor para o PT: Uma reforma política poderia moralizar a política brasileira, mas, segundo o Valor Econômico, não acabaria com o problema interno do Partido dos Trabalhadores, que passa por dificuldades em diversos segmentos. O problema se agravaria, caso o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, que estancou a perca de credibilidade, junto ao eleitorado, tentasse a reeleição. Ele teria pouco apoio do partido, da base eleitoral e do Congresso Nacional.

A questão se aprofunda, quando o Valor Econômico questiona a dissociação do presidente do partido. Devido as irregularidades financeiras das campanhas e por brigas internas, há o distanciamento de Lula do partido. Mas, em contra partida, as mesmas facções que lutam internamente pelo poder, desfrutam do carisma e da popularidade do presidente, que tem a sua imagem acima de tudo o que está acontecendo, criando o mito de ser até agora intocável. A tudo isso, o editorial do Valor Econômico, diz que a culpa não é do PT, mas de uma coalizão “esdrúxula” entre a esquerda radical do PT e os espectros ideológicos mais a direita, que são seus aliados. Visto isso, a aliança motivou o PT a se perder a sua ideologia em favor da Governabilidade. No entanto, segmentos do PT, que são movidos e orientados por questões ideológicas, causaram o imobilismo na administração pública,. ao se confrontarem com setores dos aliados de ultra-direita, que não concordavam com a aplicação de suas idéias e vice-versa.

Devemos até concordar com afirmação e a análise do editorial do Valor Econômico. Lembrarmos que somente a colisão que não for movida por interesses é que dará certa na democracia brasileira. No ponto da reforma administrativa, os partidos políticos deveram ficar mais atentos quanto as alianças que constituem os poderes e lutar para que não haja a verticalização nacional no pleito de 2006.

Desta forma, os escândalos de corrupção em Brasília, motivaram os debates sobre a reforma política-partidária. A reforma prevê acertos na conjuntura política, como fidelidade partidária, lista fechada para votações (que aumentaria o fracionamento partidário devido a regionalizações), e financiamento para eleições conforme a porcentagem de representatividade e o fim da verticalização, que acaba de uma vez por todas com as alianças “esdrúxulas”. Se a crise política que se abateu sobre o governo Lula se circunscrever à questão da corrupção política, serão poucas as chances de avanço civilizatório, social e econômico. Não basta que sejam apuradas as responsabilidades e efetuada a profilaxia pertinente. É necessário ampliar o escopo da reflexão, abordando a precariedade do sistema de governança baseado na coalizão e a baixa qualidade do sistema político-partidário.
O jornalista que for mais afundo na questão e prestar atenção nos fatos, concordará que a turbulência que vêm sofrendo os políticos no Brasil, está ligada ao financiamento de campanhas políticas e as alianças que constituem o poder. Enquanto o problema não é resolvido, cabe aos jornais, fiscalizar os atos dos políticos, como arrecadações, doações, contribuições e alianças. A transparência deixaria os meios de comunicação mais informados quanto a irregularidades ou acordos políticos e econômicos que criarem situações duvidosas. Além disso, a reforma, segundo alguns segmentos que fazem parte das maiorias, dizem que a reforma serviria como alternativa para mudar o ambiente político e acabar com legendas de aluguel. Porém, ao citar isso, acreditamos que a medida vêm a prejudicar os partidos que têm menor representatividade, como o PSTU e o PSOL, que têm uma militância mais engajada com as questões sociais e não são ligados a burguesia, grupos econômicos, empresários e banqueiros. Deve-se avaliar que o presidente está conseguindo controlar a crise e administrar o país, com a reforma administrativa e ministerial. Porém, cabe também ao PT, que não está no mesmo caminho do presidente, “enxugar” a máquina, com a extinção de cargos públicos, ministérios e secretarias e a reconstrução da imagem do Governo e da criação de uma agenda, com metas até o fim de 2006 e que abrigaria objetivos eleitorais.
Deduzimos também, que a prática de alianças que enfraqueceu o discurso petista, foi o que deu espaço para a corrupção, que segundo Zancanaro consiste em:
“Apoderar-se de um poder cedido, em usá-lo como se fora propriedade sua. A corrupção envolve a usurpação de mais poder do que aquele previsto e devidamente conferido pela ordem vigente. Sob esse aspecto, nenhum Estado pode considerar-se antecipadamente imune a corrupção. Nos Estados racionalmente organizados, a ação político-administrativa encontra na lei clara e objetiva os seus devidos limites. Quando tais limites são extrapolados de forma indevida, a forte carga de arbítrio pessoal que invade a ação político-administrativa dos Estados patrimoniais pode conduzir impunemente os seus agentes a apropriação de prerrogativas inerentes ao mando e aos atos deles decorrentes como se fossem propriedade privada. A indefinição dos limites do mando pode levar as mais variadas formas de corrupção”.
Além disso, citamos que, a corrupção também pode ser decorrente de três graves problemas da política brasileira: 1) o uso desmesurado de verbas estatais e cargos públicos como alicerce entre as relações do Executivo com e Legislativo; 2) o troca-troca partidário como forma de garantir o apoio do Governo; 3) falhas vinculadas ao financiamento nas campanhas, que possibilita a “compra” de políticos. .
A garantia de cargos em favor da coalizão é um dos motivos do desgaste do presidente. Uma das soluções para acabar com isso, seria o corte de 2/3 dos cargos comissionados, reduzindo e reordenando as funções. Para que o candidato ao cargo ocupasse a função, ele deve ter um bom currículo e, exercer funções técnicas. Seriam profissionais derivados dos meios acadêmicos, vinculados a sociedade civil e vindos do mercado, com novidades gerênciais para a administração publica. Sugerimos que outra parcela destes 2/3, seria ocupado por pessoas ligadas ao partido político e a aliança eleita. Com isso, seriam garantidas as propostas de campanha e esses funcionários comissionados passariam por uma sabatina para saber sua responsabilidade junto ao que é público. A medida é contrária a política de distribuição de cargos, conforme a coalizão e resolveria o problema da ingerência, devido os pretendentes aos cargos terem boa qualificação. Para a construção de uma democracia séria, acredita-se que os gestores sejam proporcionalmente divididos por setores e não dependam do jogo político que desfavorece a minoria. Além dum programa de fidelidade partidária. Além do mais, a falta de afinidade ideológica e programática, em última instância, seria a responsável pela adoção de práticas pouco transparentes dos aliados (PL. PP e PTB). Ao explicar a engenharia que move o meio político, acredita-se que o Governo, para exercer a governabilidade, não deveria ser prender a qualificação ideológica, mas trabalhar o aspecto ético junto aos seus aliados.
Por fim, não devemos nos esquecer, que o prestígio do presidente ainda continua alto. O motivo mais lógico é a identificação com o povo, já que Lula foi um operário oriundo das classes sociais mais desfavorecidas. Isso não desestimula as pessoas e dá ao eleitor a sensação de proximidade ao presidente, que por sua vez, se mostra preocupado e indignado com os problemas e procura fazer algo para mudar. Uma situação nunca experimentada antes pela população.

3.3 – “O PT e o direito da hereditariedade política”

Este editorial, de 12 de outubro de 2005, trata de uma questão muito ligada a política brasileira, o patriarcalismo e a hereditariedade política. Muito comum nos estados do Nordeste e nos antigos regimes oligarquicos, o patriarcalismo hoje é representado, segundo o Valor Econômico, pelos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que têm seu neto, Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), como deputado federal e sub-relator da CPI dos Correios e, José Sarney (PMDB-PI), com os filhos Roseana Sarney e Sarney Filho.

O Valor Econômico cita que:

“O regime democrático reinaugurado em 1985, com a posse de um civil, José Sarney, na Presidência da República, mostrou que nada havia mudado no reino dos oligarcas. Um deles, inclusive, ocupasse a Presidência: Sarney consolidou seu poder estadual em 1966, quando foi eleito governador do Maranhão e depôs a oligarca anterior Vitorino Freire. A família Sarney ainda hoje domina o Estado. Sua filha, Roseana Sarney é senadora e, seu filho, Sarney Filho, foi deputado e já ocupou a pasta de ministro. Sarney e Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) são considerados os últimos oligarcas à moda antiga. ACM, que se consolidou na política destronando o anterior, Juraci Magalhães, ex-interventor do Estado Novo, é ainda o dono incontestável da política baiana. Preparou seu filho Luís Eduardo Magalhães como seu sucessor, mas ele morreu jovem. Agora investe no deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto”.

O Valor Econômico, ao criticar a prática do patriarcalismo, nos lembra que o regime militar, acabou e destituiu diversas famílias que realizavam a prática. No entanto, reconhece que não somente as velhas elites ou antigas oligarquias exercem a prática, mas também o Partido dos Trabalhadores começou a adotar isso, quando José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, incentivou seu filho, o Zeca do PT, a seguir o mesmo caminho, candidatando-se à prefeito de Cruzeiro do Oeste, um cidade do interior do Paraná, ao qual José Dirceu exerceu muita influência. .

Segundo o Valor Econômico, o Partido dos Trabalhadores, ao adotar à pratica, que é muito próxima do clientelismo, errou como os mesmos partidos ao qual ele sempre combateu.

“O PT, que durante pelo menos uma década discutiu a conveniência de se ‘institucionalizar’, inaugura a sua entrada na política hereditária. Criado como um partido de militância, a mobilidade interna, isto é, a possibilidade de acesso a cargos de direção e de disputa a cargos eletivos, dependia da representatividade do grupo interno ao qual o candidato a político pertencia e à sua representatividade a algum setor social. O deputado José Dirceu (SP), um dos maiores responsáveis pela crise ética e de identidade que se encontra hoje, introduziu a família como vetor de acesso à política, através do filho Zeca do PT”.

No entanto, não podemos esquecer à crítica referente ao patriarcalismo que corrompe as esferas públicas do poder e afeta os dois segmentos partidários e ideológicos. No caso de ACM Neto, ele pode ser a maior representação, ao ser o neto do senador Antônio Carlos Magalhães e os filhos de José Sarney também estão na mesma esfera. Desta forma, observamos que há erros graves contra a democracia, tanto no PT, quanto na organização do PFL e do PMDB, que adotam a prática da hereditariedade e patriarcalismo na política.
O jornal Valor Econômico, afirma que:

“A política brasileira, constituída à imagem e semelhança de uma sociedade patriarcal, incorporou como regra um estranho direito divino à hereditariedade. Isso é comum nos pequenos municípios, onde uma mesma família domina a política local e torna-se proprietária do aparelho partidário que lhe dá guarida. Quando o seu domínio é questionado, toma de assalto outro partido. Essa parcela de poder municipal pode alimentar com a mesma lógica, um partido estadual: nada impede que os grupos locais dominados por familiares se aliem a grupos que dominam o Estado. Aliás, essas famílias dependem de outras instâncias de poder, estadual e federal, para como depositárias do dinheiro público, alimentarem suas clientelas e mantê-las sob seus domínios. Isso, não é uma prerrogativa municipal, mas é uma lógica intrínseca à política brasileira”.

O editorial do Valor Econômico, ao reconhecer a prática desmedida em nosso país, toma parte da isenção e reflete os aspectos aos quais estamos condicionados a viver. Ao retratar a prática dos políticos como ACM e Sarney, ele nos traz a tona um problema a ser contornado e uma situação em que os eleitores devem prestar mais atenção. Pois, na democracia, é o voto representativo que determina as instâncias políticas e a divisão do poder. Por isso, a prática do patriarcalismo, é questionada e vista como algo que pode criar situações em que a corrupção pode contaminar a política. Pois, como dito no texto de 12 de outubro, o patriarcalismo está relacionado diretamente com a prática do clientelismo, para a manutenção do poder. Por outro lado, o Valor Econômico reconhece que José Dirceu, ao colocar o filho Zeca Dirceu na política, usou-se do mesmo expediente tão questionado anteriormente pelo PT. Mas, a qual lógica devemos nos orientar e seguir? O jornalismo, independente da linha editorial a ser seguida, deve ser muito crítico em relação a este tipo de prática política. Apesar de vivermos em uma democracia, a situação do patriarcalismo, pode dar argumentos, que no futuro possam justificar o nepotismo, que é o emprego de parentes no serviço público, através de nomeações. Tanto o PT, mas principalmente as velhas oligarquias do Nordeste, deveriam tomar cuidado para que um futuro “escorregão” não transformassem a prática eleitoral, que se baseia na democracia, não se transforme em um “cabide de empregos”, que se constrói a partir do nepotismo, clientelismo, trafico de influências e patriarcalismo, molde central da nossa discussão.

Portanto, devemos concluir, dizendo que: O Valor Econômico, ao criticar o patriarcalismo, independente de qual seja a esfera política e ideológica, contribui para a formação crítica de seu leitor, que não é conivente com as práticas suspeitas a qual está submetida a política brasileira. Ao condenar os políticos e citar suas práticas, coloca um ponto de vista e compara duas situações, independente de quais sejam suas linhas partidárias.

3.2 – “Avaliação política do governo é falha e lenta”

No editorial de 6 de outubro de 2005, o Valor Econômico aborda as questões referentes a ética e qual é o comportamento que deve guiar os políticos. O jornal cita, que devido ao quadro de instabilidades ao qual, quem está inserido na vida política é obrigado a viver, as posições e determinações a serem tomadas, nunca serão as mesmas e sempre estarão subjetiveis as transformações de opiniões. Toda esta relação está ligada a posição do Governo Petista diante de uma crise, suas mudanças de opinião, devido a situação política e, principalmente, os fatores que o levaram a apoiar o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-AL), que apesar de ser um grande aliado do Governo, teve sua imagem desgastada, devido estar envolvido em um esquema de propina que pedia dinheiro para a renovação de um contrato de concessão a um empresário que administrava um restaurante na Câmara.

No entanto, a maior crítica do jornal, está no modo em que o Governo vê toda a crise. Passando-se por “desentendido”, Lula e o Governo não se preocupam com as acusações, ou tentam mostrar que os problemas não são com eles, mas com os outros. Desta forma, parece que o Governo tenta “enganar” ou até mesmo se omitir do que está acontecendo, para que no futuro, não seja associado com os culpados, mesmo que eles sejam do seu partido e o ajudou a se eleger. Ou então que toda a culpa caia sobre os aliados, que precisam do apoio do presidente, mas neste momento, de muitas dificuldades, não encontrar a ajuda necessária. Desta forma, o Valor Econômico acredita que aos poucos, o Governo e seus aliados vão se desfragmentando e mudando de opinião para que não saiam enfraquecidos. A idéia vai de acordo com o início do editorial, que afirma que na política, nada ;e constante, mas tudo pode mudar devido a situação:

“O ex-deputado Magalhães Pinto, conspirador do golpe militar de 1964 e dissidente do regime ao seu final, lançava mão de uma imagem para definir a política: ‘Política é como nuvem: você olha e vê um formato, mas quando olha de novo já vê outro’, dizia. Nos momentos de crise política, então, a volatilidade é extrema: pode ir do céu de brigadeiro a uma chuva torrencial. Talvez por essa capacidade de auto transformar-se e, em alguns momentos, adquirir dinâmica própria que responde a processos, mas não à vontade dos atores políticos, a política exige habilidade para a adequação aos ventos que mudam o seu rumo. A manutenção de um padrão de comportamento em situações em que os ventos sopram na direção contrária é uma suprema habilidade política”.

Assim, ao avaliarmos que o editorial trata das intempéries a qual está submetido os políticos, mas se esquece de citar que o envolvimento têm uma causa muito simples: a corrupção que está instalada na esfera pública, é a principal causa dos problemas. O Valor Econômico, deveria estar ciente de quem nem sempre a corrupção envolve dinheiro, mas está no ato de corromper, assediar e outras atividades que podem ser consideradas como ilícitas. Segundo Antônio Frederico Zancanaro, em A corrupção político administrativa no Brasil:

“Numa perspectiva de senso comum, diz ‘imaginamos sempre que corromper uma autoridade significa pagar a essa autoridade para que faça ou deixe de fazer determinada coisa em sua capacidade oficial’. Essa idéia pode não estar correta. E exemplifica afirmando que há casos de corrupção nos quais os objetivos em jogo podem ser meramente eleitorais, sem envolvimento de recursos econômicos imediatos. Mesmo assim, assevera o autor, a corrupção jamais deixará de constituir-se num estigma indesejável no seio de qualquer sociedade politicamente organizada, quer o sistema de dominação esteja fundado sobre pressupostos racionais. Qualquer expediente, portanto, que fira a ordem estabelecida, conhecida a socialmente aceita, com o objetivo de auferir lucros ou benefícios privados indevidos através do uso de prerrogativas do poder cedido dentro do Estado caracteriza-se como corrupção”.

Deste modo, o jornal deveria classificar Severino Cavalcanti, independente que faça parte da bancada de apoio ao presidente, como corrupto. Ao pedir suborno para a renovação da concessão do restaurante e se aproveitar da condição e do cargo que ocupa, Severino foi justamente repreendido e punido por um ato ilícito. O ato, mostra que o Governo está perdendo forças e que precisa tomar medidas de apoio, para que na fique enfraquecido.

O Valor Econômico, ao trazer a opinião da oposição ao Governo em seus editoriais, contribui para a manutenção da democracia, no entanto, deve-se sempre ficar a tento para que estas mesmas reações da oposição, não se possam confundir com o atrelamento a interesses financeiros. Como no sétimo parágrafo, que diz o seguinte:

“A oposição tem mantido uma postura melhor nesse momento. O discurso, nesse caso, é pela preservação da instituição parlamentar. Emite sinais de que não usará o episódio para tomar o poder no Congresso, nem polarizará com o governo quando a unidade dos partidos nele representados é fundamental para resolver uma crise chamada Severino. Tem acenado inclusive com um nome petista para o cargo, desde que com posições independentes do governo e trânsito em todos os partidos. Para que as articulações das pessoas interessadas em restabelecer a dignidade do Legislativo dêem resultado, é preciso que Severino tenha um único gesto digno desde que assumiu a presidência da Câmara: renunciar ao cargo de representante dos deputados federais. É importante para a democracia que essa transição não seja feita ao arrepio da lê”.

No trecho acima, notamos que há muita interferência do jornal nas questões que predominam no Congresso. Ao citar que Severino Cavalcanti deveria renunciar, O Valor Econômico se usou do expediente da tentativa de induzir o presidente a renunciar. A renuncia, acabaria de vez com as suspeitas, mas o colocaria (Severino) na condição de inocente. Deste modo, caso houvesse uma nova eleição, ele seria reeleito. A crítica correta, seria a de criticar Severino e promover um debate sobre a questão: se houve propina, quais forma os motivos que o levaram a aceitar. Sendo assim, haveria um julgamento justo e no caso do réu ser culpado, ele cumpria sua pena, que é o cerceamento de seus direitos políticos. Desta forma, não seremos coniventes com a corrupção e contribuiríamos para que o julgamento justo e ético fosse feito para o aliado do Governo, sem subterfúgios que o deixassem impune.

3.1 – “Ações orquestradas para esvaziar as investigações”.

Com este primeiro editorial, do dia cinco de outubro, o jornal Valor Econômico, tenta fazer uma relação entre o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, com os constantes acontecimentos que movimentam o cenário político brasileiro. Ao abordar que o presidente, ao conseguir eleger Ricardo Berzoini e o Campo Majoritário, para a presidência do Partido dos Trabalhadores e, eleger o deputado paulista do Partido Comunista do Brasil, Aldo Rebelo, para a Presidência da Câmara, o Valor Econômico traz a tona a discussão a respeito do corporativismo e do apoio que Lula pode ganhar na Câmara, dentro do partido e, principalmente, o ganho de força do presidente que daria motivos para que as investigações das CPI’s não tivessem tanta força contra ele e seus aliados. O jornal lembra que o maior favorecido com as mudanças ocorridas no cenário político, não é diretamente Lula, mas o Partido dos Trabalhadores, que se articulou novamente e, busca forças para não sucumbir às investigações.

Além do mais, não podemos nos esquecer, que é o Governo, que vêm realizando manobras para que as investigações não se aprofundem. No caso citado, consta que o Governo e seus aliados, atrapalham as investigações, ao não possibilitarem que sejam quebrados os sigilos bancários dos investigados. Isso é uma vergonha, que deveria ser cessada.
Segundo o Valor, caso a crise política se acentue, com as denúncias da CPI dos Bingos, o PT pode perder muitos cargos e poder nas eleições de 2006. Por isso, sua intenção, segundo o jornal, é esvaziar e desgastar as CPI’s e as investigações, para que nada de concreto ou mesmo, comprometedor, seja provado. Junto a isso, o Valor diz que em muito as CPI’s não vêm realizando seus trabalhos como deveriam ser, se tornam instrumento político partidário e que possivelmente acabaram em “pizza”, ou seja, deixam impunes os corruptos.

Devemos acreditar que afirmação é incorreta, ao lembrarmos que vários parlamentares já tiveram seus mandatos cassados, como o pivô da CPI dos Correios, Roberto Jefferson (PTB-RJ) e outros parlamentares já renunciaram, como Valdemar da Costa Neto (PL-SP).
Quanto ao editorial em si, ele nos traz a idéia central, que há a perca da credibilidade das investigações, através do aparelhamento do partido político do Governo, pelo Estado, para que haja impunidade e os corruptos saiam ilesos das investigações. O editorial, formulado desta maneira, requer uma análise mais profunda. A partir do momento que se cria e narra fatos, para nos dar maior entendimento, pode-se as vezes manipular uma idéia, ou quem sabe, até exagerar, para que a notícia tenha mais relevância e chegue com mais força aos leitores. Desta forma, deve-se pensar o limite que o jornalista pode opinar sem ferir a moral dos que trabalham nas esferas públicas, ou seja, as fontes. Desta forma, não devemos nos esquecer que ao escrever um editorial, jamais poderemos ser movidos por segmentos ideológicos, aspirações ou preferências. Mas sim, devemos nos orientar pelo diferencial ético. Assim, nosso jornal terá mais credibilidade e os leitores, que, ao lerem o editorial, poderão acreditar em quem escreveu e, principalmente, levar em consideração a idoneidade e isenção do que está escrito.
A análise do editorial de cinco de outubro, revela que o Valor Econômico, ao ser um jornal voltado para um público segmentado e elitizado, deveria trazer a tona, as notícias com mais relevância e criticas a respeito de um assunto tão polêmico, que é o da corrupção institucionalizada e das CPI’s. Ao ser conivente e menos crítico com a ação partidária que dará menos força e crédito as investigações, o Valor Econômico mostra que é independe do Governo e que pode até ajudar o mesmo. Sua posição correta, seria de criticar e fazer uma matéria contra a ação partidária que força o enfraquecimento das investigações. O jornalismo nunca deve dar apoio a medidas que venham usurpar e denegrir a ética de nosso Estado. Mas sempre ser combativo e crítico, a tudo aquilo que venha prejudicar o cidadão brasileiro.

O sétimo parágrafo diz o seguinte:

“Corre-se o risco de que as CPI’s que pararam o país por quatro meses legitimem à lamentável prática política de financiamento dos partidos com dinheiro ilícito, que no limite pode submeter as decisões políticas a financiadores que, se não querem mostrar a cara, estão à margem da lei ou querem obter benefícios da máquina governamental sem serem percebidos”.

Apesar da crítica contundente ao jornal, que deveria ser incisivo nas apurações e mais crítico ao Governo, ao desmascarar a corrupção, devemos citar que ainda existe no editorial, a idéia que se mostra contra a arrecadação ilícita de dinheiro por parte dos partidos políticos. Ao consideramos que a crítica se estende a todos os partidos, o jornal não está tomando parte para ninguém e cria parâmetros que vão além da notícia ao ser mais profundo na análise e na crítica.

Contudo, devemos concluir a sub-capítulo, dizendo que apesar das investigações feitas pelo Ministério Público, Polícia Federal pelo Congresso Nacional, o Valor Econômico, devido ao grau em que chega aos seus leitores, deveria conferir e dar mais peso as investigações. Isso seria feito através de críticas mais contundentes em seus editoriais e a cobrança mais justa contra os que dilapidam o que é público. Sem se apegar a ideologias ou a interesses de mercados, o jornalismo tem toda a isenção necessária para a atribuição e exercício de suas funções, como a liberdade para fazer as críticas sem poder, no futuro, ser reprimido ou sofre retaliações. Quando o caso específico, ou editorial, é referente as esferas do Poder Público, a isenção e o desapego a ideologias são fatores que determinam o grau crítico e a veracidade da crítica.

3 – Análise dos Editoriais

Como dito anteriormente, o objetivo deste trabalho, é a análise crítica dos editoriais do jornal Valor Econômico. Devido o Valor Econômico ser voltado a um público mais segmentado e elitizado, as críticas serão baseadas em fatores como a inserção na população e quais são as propostas dos editoriais. Os dias analisados são todos do mês de outubro e se compõe da seguinte maneira: 5; 6, 12; 27; e 30.

2 – O Valor Econômico

Quando se apresentou ao público pela primeira vez, em 2 de maio do ano 2000, o Valor Econômico resolveu explicitar aos leitores quais princípios deveriam guiar seu comportamento editorial. Voltado para as classes sociais de maior poder aquisitivo, o Valor “oferece um panorama abrangente e confiável do que ocorre na esfera produtiva, capaz de auxiliar a tomada de decisões pelos agentes econômicos”. Algo indispensável para as camadas sociais que detêm e exploram os meios de produção capitalista, mas dispensável para os que não têm condições financeiras e possibilidades de construir algo voltado para o capital. Criado pelo Grupo Folha e pela Infoglobo, que dividem igualmente o seu controle acionário e que são as empresas que mais detêm e controlam os meios de comunicação brasileiro, o Valor mostra que pode ser indutivo e movido pelos dois grupos e ser intermediador dos interesses das empresas, a qual o grupo mantêm contratos de publicidade. Voltado a elite econômica, e ao público mais amplo interessado em economia e negócios, o Valor Econômico contribui para a manutenção da ordem capitalista ao criar artifícios para que a elite econômica possa se sobressair, aumentar seus rendimentos e o lucro. Devido a quantidade impressionante de notícias exclusivas ou dadas em primeira mão a respeito de negócios ou de política econômica, o Valor Econômico mostra seu potencial e poder econômico ao colocar vários repórteres em locais de extrema importância na busca da notícia. Devido a sua influência, ele pode estar mais ligado e influenciar diversos assuntos, sejam eles voltados a economia ou política. Esta influência pode ser negativa, caso o jornal comece a interferir nos assuntos ligados a população mais pobre, que se sente desprotegida diante de uma ação do jornal. Ao publicar análises originais, profundas e plurais de analistas de peso e respeito público, como as do deputado paulista Delfim Neto (PP-SP), o Valor Econômico cria artifícios para que pessoas diretamente ligadas à política e que possam defender interesses escusos, possam ter mais influência e defender interesses de origem duvidosa. São estas mesmas pessoas que podem omitir, não divulgar e denunciar a injustiça, a corrupção e a incompetência no trato dos assuntos públicos, em benefício próprio ou corporativista. No seu primeiro editorial, em 2 de maio, do ano 2000, o jornal disse que defenderia “com vigor o desenvolvimento do mercado de capitais”. Tanto tem feito isso, em suas páginas, ao defender e publicar matérias a respeito dos possíveis “benefícios” que as privatizações podem trazer ao nosso Estado. Não é preciso ser nenhum exper., para saber que são as privatizações que desmontam o aparelho estatal que serve de auxílio ao povo e que os beneficiam ao cobrar taxas baixas. Com as privatizações o bem público é dilapidado em benefício de uma elite capitalista que não está interessada no bem estar social, mas somente na exacerbação injusta de seus lucros e o crescimento de seu patrimônio. Nem que para isso os mais pobres padeçam e fiquem miseráveis. Esta contradição é vista, quando o jornal diz que têm o “compromisso de ajudar a promover o desenvolvimento social e combater injustiças”, mas prega a prática irresponsável do lucro e do capitalismo com as privatizações. O objetivo de “sempre valorizar a figura do empreendedor” é algo a ser colocado em dúvida. Não para desmerecer o Valor Econômico, mas o questionamento se refere a forma e, qual empreendedor é valorizado. Voltado aos grandes empresários, banqueiros e industriais, o Valor Econômico pode se esquecer e não dar a devida atenção ao médio e pequeno empresário, que são as pessoas que mais contratam e acabam deslocados e ficando sem a promoção da mídia, devido a não participarem da grupo seleto a que chamamos de elite. A comprovação da idéia acima está no “Anuário 1000 Empresas de Valor”, que como o nome já diz, dá destaque somente as 1000 maiores empresas. O Valor Econômico esquece que o nosso mercado é maior e mais abrangente, pois classifica e dá visibilidade somente para as vendas das 1000 maiores empresas que atuam no país; os 50 maiores bancos; as 100 maiores seguradoras; e as companhias que mais se destacarem em 27 setores de atividades. A promoção, associação e a valorização das entidades são vistas quando o Valor Econômico cria a parceria com a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. A Escola, ao orientar e escolher as “maiores”, mostra que ter poder decisão direto sobre as escolhas a serem tomadas pelo jornal e mudar o pensamento de seus leitores. Declarando-se apartidário, desatrelado de governos, grupos econômicos, facções políticas, candidaturas e mantendo suas páginas abertas a representantes de diversas tendências ideológicas e políticas, o Valor Econômico pode entrar em contradição ao afirmar as idéias acima e ser elitizado e voltado as classes sociais mais abastadas e dar pouca importância para os acontecimentos que mais podem beneficiar as camadas mais populares. Ou então piorar a situação, ao omitir ou não publicar em suas páginas, algo que realmente interesse ou que beneficie os mais pobres, como a diminuição dos preços ou a quebra de um cartel. O Valor Econômico, ao ser uma empresa produtora de informações econômicas em todos os formatos e em todas as mídias, influência diretamente os que querem investir seus capitais, seja na indústria, agropecuária ou em finanças. Acima de tudo, produz notícias relevantes, antecipa negócios e aponta direções e tendências na política e no comportamento econômicos do país. Por isso, deve-se tomar cuidado, devido a tamanha interferência. Não se sabe se pode ser positiva ou negativa, mas entende-se que para o jornalismo isso não é benéfico, pois cria a sensação de que existe um quarto poder e que ele está aí para nos guiar, independente de qual seja a lógica ou os interesses. Há ainda nessas palavras, a possibilidade de inserção, nem que seja de forma sutil, a manipulação das informações em benefício do privado. Apesar de toda à crítica feita ao Valor Econômico, deve-se reconhecer que o jornal participa ativamente da política brasileira e desempenha o papel de fiscalizador das esferas públicas do poder. Além disso é um jornal bem desenhado, com um projeto gráfico bem elaborado. No entanto, o Valor Econômico, ao trazer um noticiário financeiro ‘hard’ e ser algo diferenciado, poderia ter mais responsabilidade social junto ao que publica e dar mais vazão para que as classes sociais mais pobres não fossem tão exploradas e exprobradas como são.

1.2 - O editorial

O jornalismo, principalmente o impresso, tem múltiplas maneiras de expressar sua orientação e de expor sua opinião a respeito da política nacional e internacional, administração, ideologia e acontecimentos diversos. A linha de conduta – que é a substância do próprio veículo de comunicação – manifesta-se desde a redação de simples notas em colunas, em páginas inteiras, ou, no editorial, o ponto de vista oficial da empresa. Evidencia-se: a filosofia da empresa na escolha do serviço das agências de notícias; no valor atribuído a determinadas matérias; no silêncio em torno de acontecimentos e pessoas; e nos comentários menores.

Não há restrições para os assuntos que possam ser abordados no editorial, mais conhecido, popularmente, como artigo de fundo. Deve, porém, ser escrito em linguagem acessível, que demonstre cultura e grande força de argumentação. Tanto podem ser analisadas as prováveis conseqüências de um projeto de lei apresentado ao Congresso, como a determinação do governo de desvalorizar a moeda ou mesmo um plano municipal que vise o alargamento das ruas. O bom articulista que tiver uma ótima linguagem e vocabulário aprimorado, transformará em excelente editorial, qualquer assunto que venha abordar. O que ele escrever será o pensamento do jornal, quer o artigo esteja assinado pelo diretor, pelo redator responsável ou pelo profissional que exerça o cargo de confiança atribuído.

Segundo Luiz Amaral, “a situação conjunta de todos esses meios é chamada de posição. O jornal parte dos fatos, com reportagens e sustenta sua opinião com editoriais, tópicos, sueltos, nos quais satiriza, elogia, condena homens e idéias, sempre de forma clara e lógica, a fim de atingir com mais facilidade as diversas classes de leitores.” A força do editorial está ligada à conduta do jornal. Para que pese, tem que ser publicado num jornal que pese. Um mesmo editorial poderá ser nulo se publicado num jornal de escândalo ou num semanário inexpressivo. Porém produzirá efeitos profundos se estampado num diário respeitado.

É o editorial que dá o tom de nobreza à página e valoriza, com a sua presença, tópicos e notas ali publicados. Pode aparecer na página de rosto, como na segunda ou quarta página. Para facilitar a leitura e chamar mais a atenção do leitor, vem em tipos maiores e derrama-se por duas, três, quatro colunas, de acordo com o tamanho e o tipo de diagramação da folha. Sua fonte são os acontecimentos do dia, no campo nacional e internacional e de preferência aborda assuntos que estão mais próximos aos leitores.

Amaral diz que “a feitura do editorial não contém regras fixas. Tanto pode partir do informativo para o deliberativo, como do deliberativo para o explicativo. No entanto, não é aconselhável citações fastidiosas, o excesso de erudição, o amontoamento de cifras e o tom doutoral”. Além disso, acredita-se que o ataque pessoal é o pior defeito de um editorial e logo se conhece o mau editorialista, quando este procura esse caminho. Desta forma, exige-se de um editorialista, integridade, independência e seriedade.

Segundo Mário Erbolato, em Jornalismo Especializado,

“A tarefa do responsável por um jornal está condicionada à missão pública da imprensa. Fixada uma orientação, é preciso seguí-la à risca, usando honestidade e imparcialidade e sem depender de favores. Além disso, a humildade e a coragem, estão entre as principais qualidades do verdadeiro jornalista. Humildade para reconhecer os limites de sua própria capacidade e coragem para dizer o que pensa”.

Desta forma, o editorial deve ajudar o leitor a compreender a complexidade das notícias, mas sem força-lo em suas conclusões. Há os que lêem os artigos de fundo e não concordam com o jornal, embora cheguem a elogiar os editoriais pela clareza do texto. O artigo de fundo precisa comentar construtivamente, mas nunca adotar uma política de “panos quentes”, ou de simples narração, sem tomar partido.

Para a conclusão, apresentamos dez qualidades, que segundo Erbolato , o editorialista deve possuir:
1º - Estar bem informado.
2º - Especializar-se nos assuntos sobre os quais escreve.
3º - Ser imparcial nas opiniões.
4º - Rever as suas conclusões, se porventura a evolução dos acontecimentos comprovar que houve erro em editorial anterior.
5º - Ter facilidade para discernir, para saber qual assunto é mais importante.
6º - Dominar os estilos narrativo e argumentativo.
7º - Explicar bem os fatos.
8º - Dar os antecedentes.
9º - Usar sempre a primeira pessoa no singular e não no plural.

1.1 – O jornalismo de economia?

Os primeiros jornais com função política – os chamados jornais de opinião – apareceram com a Revolução Francesa e nela desempenharam papel relevante. Eram jornais caros para a época e seus leitores evidenciavam, ao comprá-los, boa situação financeira. No Brasil, os primeiros jornais eram de opinião. O Correio Braziliense, o primeiro jornal a circular no Brasil e de Hypólito da Costa, era movido por interesses, mas pregou contra o absolutismo e em favor das liberdades políticas e das instituições civis.

Hoje, acredita-se que o Jornalismo Econômico assume um papel de grande importância na sociedade. No inicio, a editoria era mais simples, quando publicava matérias resumidas e de interesse restrito: cotações de moedas estrangeiras; valores de gêneros alimentícios; informes sobre falências e concordatas; e outras notas esparsas. Atualmente, os jornais divulgam temas econômicos, mais extensos, isto é, não só aquelas informações anteriores, mas também, tudo quanto, de certa forma, possa refletir-se sobre a coletividade, com repercussões de caráter financeiro ou que provoque restrições de hábitos de compra e venda.

O jornalismo de função econômica é um instrumento do desenvolvimento econômico e social. Difundindo diariamente uma enorme massa de informações sobre assuntos variados e de interesse à sociedade, o jornalismo tem contribuído para o desenvolvimento da indústria e do comércio, como para melhorar as relações sociais, de um modo geral.

Com noticiário e interpretação dos fatos econômico-financeiros, o jornalismo oferece ao homem de negócios um panorama diário do mercado que lhe facilita a ação, abre perspectivas para o desenvolvimento de suas empresas e proporciona bases para melhor relacionamento com a clientela. Tão importante é hoje essa função para o empresariado, que nenhum homem de negócios inicia seu dia de trabalho sem antes tomar conhecimento de tudo o que saiu publicado sobre sua atividade específica e sobre o mercado em geral. O clipping é feito antes da chegada dos responsáveis pela empresa e produzido, cada dia mais, por funcionários especializados, capazes de discernir numa massa enorme de informações, aquilo que interessa diretamente à organização em que trabalha.
Erbolato, diz que

”As notícias sobre assuntos financeiros ajudam a obter o conhecimento e a informação das quais se necessita à respeito da maneira como pode funcionar o sistema econômico de uma nação. Em uma sociedade livre, o papel do jornalismo econômico não é diferente de seu papel no governo e na política: informar e estimular a discussão dos cidadãos, ainda quando isso provoque uma diferença salutar de opiniões”.

Portanto, podemos considerar que o jornalismo, especificamente o impresso, é uma das ciências da Informação Coletiva ou da Comunicação Coletiva. Luiz Amaral, em Técnicas de jornal e periódico, diz que, ao assumir a condição de ciência, o jornalismo toma contornos acentuados e bem visíveis, e pode ser definido como “o estudo do processo de difusão coletiva, com características específicas de atualidade, periodicidade e recepção coletiva”.

1 - O que é o jornalismo

Segundo Luiz Beltrão e Newton de Oliveira Quirino, em Subsídios para uma teoria da comunicação de massa, o jornalismo é “o processo de produção de mensagens relativas a fatos, idéias e situações atuais, interpretadas à luz do interesse coletivo e transmitidos periodicamente à sociedade com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública no sentido de promover o bem comum”.

Embora existente desde os primórdios da vida social humana, o jornalismo com os atributos que hoje lhe são peculiares (atualidade, variedade, interpretação, popularidade, difusão coletiva e promoção) procede da difusão da tipografia, a partir do século XVI, consubstanciando-se com os diários impressos no seguinte século.
Beltrão e Quirino, dizem que:

“Com a implantação da sociedade de massa, ao jornalismo cabe informar e comentar qualquer fenômeno que ocorra, em determinadas circunstâncias, na natureza, nas relações sociais ou no mundo criado pelo homem. Não deve ser propósito específico dessa atividade, em sentido restrito, educar, persuadir ou entreter seus destinatários, uma vez que tais funções são próprias de outras atividades comunicacionais”.
As distorções sofridas pelo jornalismo, no decurso de sua história, são geradas pelo intento de restringi-lo a instrumento de educação, de propaganda ou de evasão, antes de apresentador do quadro da atualidade, sem cujo conhecimento a comunidade permaneceria alienada, sem condições de opinar e participar da ação construtiva da paz, do progresso e da ordem social.

No jornalismo, entre a ocorrência de um fato e a sua veiculação, é percorrido um caminho relativamente rápido, se medido em horas. Porém, ele é bastante tortuoso e complexo. A começar pelo fato de que a imprensa não vive apenas dos episódios ocorridos num determinado dia, mas também da discussão, do debate e da análise de acontecimentos ou situações atemporais – que estão acontecendo, e não simplesmente que aconteceram.

É muito provável que um jornalista que consiga responder com exatidão e o maior número possível de detalhes relevantes às seis questões fundamentais de cada acontecimento (o quê, quem, onde, como, quando, por que) produzirá um trabalho jornalístico no mínimo aceitável. Mas, no universo informativo atual, uma dessas seis perguntas deveria merecer prioridade sobre as outras: por quê. O porquê de um determinado fato envolve uma investigação profunda sobre seus antecedentes e uma razoável soma de conhecimentos sobre o tema que está sendo tratado. E é imperioso que a imprensa escrita se debruce sobre os porquês, na medida em que rádio e televisão têm limitações congênitas para invadir este terreno. A explicação para as limitações do rádio e da tv, podem dadas devido o jornal impresso permanecer e conter mais “espaço” para a produção na notícia. Nos outros veículos de comunicação (rádio e tv), isso não é possível devido eles se esvaírem no ar, não possibilitando um acompanhamento posterior, sem que sejam gravados. Entre as funções do jornalismo, há duas que mais se destacam: a função política e a função econômica. Por função política, entendem-se os meios de informação, em sua ação crescente, como instrumentos de direção dos negócios públicos, e como órgãos de expressão e de controle de opinião pública.
A cada dia são maiores as relações entre o Governo e os meios de informação coletiva. Convencidos de que a opinião pública pode ser controlada através de uma informação inteligente e bem dirigida, os diversos órgãos governamentais desenvolvem seus serviços informativos captando simpatias e fornecendo vasto material para repórteres, redatores e editorialistas.
Com o título “A falência de uma coalizão esdrúxula” o editorial de 27 de outubro trata da reforma política que poderia mudar os pilares da política brasileira e aborda a “esdrúxula” coalizão, ao qual o Partido dos Trabalhadores se submeteu para alcançar o cargo político mais cobiçado do país: a Presidência da República. Segundo o Valor Econômico, a falência de todo um sistema criado pelo PT, pode ter a explicação resumida em uma coalizão que não foi motivada por padrões éticos, mas sim, no que diz respeito à maior representatividade de votos. O erro, segundo o Valor Econômico, foi o PT, um partido de vários segmentos ideológicos com espectro voltado à esquerda, ter feito alianças com partidos políticos que têm o espectro ideológico voltado à direita e mais conservador e lançando a idéia de que a crise pode ter sido motivada por questões de cunho político-ideológico.
O último editorial, “Governo retoma iniciativa, mas paga um preço alto”, de 30 de outubro, mostra que o Governo como um todo e principalmente o presidente Lula estão fazendo muitos esforços para que não saiam enfraquecidos no pleito de 2006 e consigam afastar a possibilidade de impeachment, articulando a vitória de Aldo Rebelo (PCdoB–SP), para a Presidência da Câmara dos Deputados. A eleição de um “aliado histórico” cria mais afinidades ideológicas para os petistas do que o antigo “aliado político”, Severino Cavalcanti.
Com o trabalho, chegamos à conclusão que o jornalismo não é uma atividade profissional totalmente isenta, e que os jornais podem ser movidos por interesses que não só estejam de acordo com as normas éticas, mas financeiras e comercias, como é o caso do Valor Econômico, que tem por traz de si dois grandes grupos econômicos.

A partir disso, levamos em consideração: a) o que é escrito nos editoriais dos grandes jornais; b) qual é a idéia a ser trabalhada junto aos formadores de opinião; c) e os impactos que essas mensagem dos editoriais trazem para as classes sociais menos favorecidas.
Por estes motivos, devemos considerar que o Valor Econômico, ao ser voltado à elite capitalista, deve ser questionado em seus editoriais e apurarmos se realmente, seu jornalismo é um produto que está à venda, contribuindo para que os interesses capitalistas se sobreponham à ordem social e à ética.

No primeiro capítulo de nossa análise é feita uma abordagem teórica sobre o que é jornalismo e, quais podem ser as suas aplicações na política e na economia, além de o classificarmos como um instrumento da sociedade de massa, que contribui para o desenvolvimento social, político e econômico. Fazemos uma abordagem sobre o jornalismo voltado à economia e como ele pode nos influenciar a tomadas de diversas decisões. A abordagem sobre o jornalismo econômico se dá devido ao assunto principal desta monografia ser o periódico Valor Econômico, um jornal tecnicista e especializado em economia. Devemos reconhecer que o jornalismo de economia é um “instrumento do desenvolvimento econômico e social, que difunde diariamente uma enorme massa de informações sobre assuntos variados de interesse da sociedade e que interpreta os fatos econômico-financeiros”.

Por fim é abordado o editorial, não esquecendo que sua função é mostrar a opinião da própria empresa jornalística sobre determinado assunto.
No segundo capítulo, é feita uma abordagem sobre a política editorial do jornal Valor Econômico e os motivos pelos quais é movido. Devido a sua autodefinição como um jornal voltado para as classes sociais de maior poder aquisitivo e para um público mais abrangente e interessado em economia, ele se vê na condição de um veículo indispensável para reforçar as idéias de exploração entre as classes sociais produtoras e trabalhadoras. Declarando-se apartidário, desatrelado de governos, grupos econômicos, facções políticas, candidaturas e mantendo suas páginas abertas a representantes de diversas tendências ideológicas e políticas, o Valor Econômico entra em contradição ao afirmar que “seu compromisso ético é de ajudar a promover o desenvolvimento social e combater injustiças”.
No terceiro capítulo, é feita a análise crítica dos editoriais do jornal Valor Econômico, editados nos dias 5, 6, 12, 27, e 30 de outubro.

O primeiro editorial intitulado “Ações orquestradas para esvaziar as investigações”, há uma relação entre o Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva e os constantes acontecimentos que movimentam o cenário político brasileiro, como as eleições de Ricardo Berzoini para a presidência do Partido dos Trabalhadores e de Aldo Rebelo (PC do B – SP), que é um “aliado histórico”, para a presidência Câmara dos Deputados. O Valor Econômico discute o corporativismo e o apoio que Lula ganhou na Câmara com a vitória do “aliado histórico”.

No segundo item deste capítulo, é feita a crítica do editorial de 6 de outubro, que tem como título a seguinte frase: “Avaliação política do governo é falha e lenta”. Neste editorial, o Valor Econômico aborda as questões referentes à ética e qual é o comportamento que deve guiar os políticos, para que não sucumbam diante da falta de moralidade. O foco central deste editorial está na situação do Governo, que passou a ter como aliado, Severino Cavalcanti (PP-AL), eleito presidente da Câmara dos Deputados e que perdeu seu mandato por estar envolvido em um esquema de propina e arrecadação ilícita de dinheiro.
O terceiro item avaliado tem como título “O PT e o direito da hereditariedade política”. Este editorial, de 12 de outubro de 2005, trata de uma questão muito ligada à política brasileira: o patriarcalismo e à hereditariedade política. Muito comum nos estados do Nordeste e nos antigos regimes oligárquicos, o patriarcalismo é representado, principalmente, pelos senadores Antônio Carlos Magalhães (PFL), na Bahia e por José Sarney (PMDB), no Piauí e no Maranhão. No entanto, a crítica se torna mais contundente, quando o Valor Econômico afirma que o patriarcalismo não é um “privilégio” somente dos políticos acima citados, mas quando se tornou “perigoso” para o Governo, quando o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT-SP), começou a influenciar na vida política de seu filho, Zeca Dirceu.

O Valor Econômico, ao citar o patriarcalismo em seu editorial, lembra que sua prática está associada a duas incoerências da política brasileira: o nepotismo e o clientelismo.

ANÁLISE CRÍTICA DOS EDITORIAIS DO VALOR ECONÔMICO

O trabalho analisa a postura de cinco editoriais do jornal Valor Econômico frente à crise política instalada no partido do Governo e mostra a relação entre o jornalismo e as esferas do poder econômico e político.

INTRODUÇÃO

A importância do jornalismo na sociedade contemporânea é imprescindível para compreendermos diversos processos políticos e econômicos dos quais somos dependentes. Como por exemplo, os motivos que levam ao aumento dos combustíveis, à desoneração ou aumento de impostos, à queda ou aumento da inflação, ou o que leva os políticos a tomar certas decisões na tentativa de mudança dos pilares da economia. Este discernimento, criado para o leitor através dos jornais, faz com que haja avanço na esfera social, dá confiabilidade e crédito para o jornalista e possibilita que o mesmo publique notícias decisivas para a tomada de posição dos leitores. Nesta lógica, os editoriais guiam a opinião dos jornais e encaminham seus leitores a uma posição sobre assuntos de grande relevância.
Desta forma, afirmamos que a população leitora brasileira, ao ler e compreender os editoriais, criará justificativas e argumentos para questionar os infratores da nossa recente democracia. Cabe à população leitora maior crítica e fiscalização sobre os meios políticos e tudo o que possa vir a corrompê-los. A partir disso não haverá discrepância entre os direitos dos cidadãos e os objetivos dos políticos que, em sua maioria, trabalham contra o interesse público, não respeitando a democracia e geralmente agindo contra os princípios éticos. O jornalista, por sua vez, enquanto agente fiscalizador do meio político, deve sempre combater a corrupção, agir como intermediador entre a esfera pública e a sociedade para que as normas éticas sejam cumpridas da forma mais coerente possível, através da cobrança de medidas transparentes que acabem com as desigualdades.
Mas como o profissional jornalista pode fazer isso? A questão é simples: ao escrever um texto, ou editorial, o jornalista deve ser consciente de quer suas palavras podem exercer muita influência e até mudar a opinião do leitor sobre determinado assunto. Por meio da persuasão, o jornalista deverá criar na consciência coletiva dos leitores, argumentos políticos e questionamento sobre os erros vindos de quem detém os poderes políticos e econômicos. Ao cumprir esta função, orientando-se pela ética e pela moral, o profissional alcançará seu objetivo de levar a verdade aos leitores, acima de tudo.

Baseado na ética e na verdade, esta monografia tem como objetivo principal a análise crítica dos editoriais do jornal Valor Econômico. Voltado a segmentos de leitores com orientação político-ideológica mais à direita e de razão conservadora, o Valor Econômico afirma, claramente, em suas páginas, que “oferece um panorama abrangente e confiável do que ocorre na esfera produtiva, capaz de auxiliar na tomada de decisões pelos agentes econômicos.” Aliás, esta proposta mostra-se indispensável às camadas sociais que detêm e exploram os meios de produção capitalista, porém inviável e de pouco alcance para a maior parte da população que constitui a base da pirâmide social.
Gerido e gerenciado por dois grupos econômicos (Grupo Folha e Infoglobo), o Valor é um jornal indutivo e intermediador dos interesses da elite econômica para a manutenção da ordem capitalista. Questiona-se o significado de um jornal que não é voltado para as classes mais populares, mas direcionado exclusivamente a segmentos da elite capitalista. Este jornal pode omitir denúncias de injustiça, de corrupção e de incompetência no trato dos assuntos públicos, em benefício próprio ou corporativistas?

A todas estas hipóteses, que foram levantadas, devemos reconhecer que a importância deste trabalho é a análise da linha editorial de um jornal que se diz defensor “do desenvolvimento do mercado de capitais”, independentemente de ser público ou privado. O jornalista deve levantar a bandeira da ética e, acima de tudo, defender o que é de benefício público e social.