quinta-feira, 31 de julho de 2008

Movimento Nacional


Campanha em defesa do diploma de jornalista ganha novos apoios

As ações da FENAJ, dos 31 Sindicatos de Jornalistas e de entidades parceiras da campanha em defesa do diploma ganharam novas e importantes adesões nos últimos dias. A agenda de atividades preparatórias à Semana Nacional de Luta também teve o anúncio de mais eventos. O movimento cresce com velocidade à medida que se aproxima o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do Recurso Extraordinário (RE) 511961, que questiona a constitucionalidade da exigência do diploma como requisito para o exercício da profissão.
No Rio de Janeiro, nova manifestação do Presidente da Fundação Biblioteca Nacional e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Muniz Sodré, teve boa receptividade. Em seu mais recente artigo, ele afirma que “Informação não é mero produto, nem serviço: é o próprio solo da sociedade em que vivemos, é o campo onde joga o cidadão. Se a garantia dessa formação adequada se espelha hoje no diploma, viva o diploma” (para acessar o artígo, clique aqui.
O professor de história e candidato a prefeito de Salvador pela Frente de Esquerda (PCB, PSOL e PSTU), Hilton Coelho, também respaldou o movimento. Ele sustentou em nota pública que “Tratamos aqui não apenas de uma questão corporativa. A luta travada pela Federação Nacional dos Jornalistas e os Sindicatos de Jornalistas de todo o Brasil se insere na luta mais geral pela verdadeira democratização da comunicação e para assegurar que os profissionais que atuam nesta área tenham um alto nível de qualificação técnica, teórica e, principalmente, ética”,
Já no Rio Grande do Sul, a Câmara de Vereadores da cidade de Esteio aprovou, na semana passada, moção de apoio à luta em defesa do diploma. Na defesa da moção de apoio, o presidente da Câmara, Luiz Duarte, ressaltou a importância do diploma do Jornalista como em qualquer outra profissão, que exige preparo, embasamento teórico nos bancos universitários e ética. "O diploma é uma das principais garantias de compromisso com a informação séria, livre e de qualidade", comenta.
Os dois mais recentes apoios à luta dos jornalistas e da sociedade na Paraíba foram do presidente da Associação Paraibana do Ministério Público, João Arlindo Correia Neto; e do presidente-licenciado do Clube dos Oficiais do Estado da Paraíba, Coronel Francisco de Assis Silva.
No Espírito Santo, dia 4 de agosto, às 15h, a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Suzana Tatagiba, ocupará a Tribuna Livre da Assembléia Legislativa para falar da Campanha Nacional em Defesa do Diploma e da Regulamentação da Profissão. No dia 13 de agosto tem panfletagem de material da campanha no 4º encontro do evento Sustentável 2008, que será realizado em Vitória. Diretores do sindicato e estudantes também farão panfletagem nas faculdades no retorno das aulas.
O curso de Jornalismo do Ielusc, em Joinville (SC), vai marcar a semana de mobilização em defesa da formação superior com uma audiência pública na Câmara dos Vereadores, dia 14/8, quinta, às 19h30. A iniciativa buscará envolver a comunidade acadêmica, os profissionais de imprensa e organizações da sociedade.
Qualquer cidadão pode encaminhar sua manifestação de apoio ao diploma. Para isso, basta entrar em "eu apóio a regulamentação" para deixar mensagem ou apenas para incluir o nome como apoiador no abaixo-assinado digital

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Lei Seca modifica comportamento de motoristas

"Passado um mês da implantação de leis mais severas para quem dirigir alcoolizado, a quantidade de acidentes automobilísticos diminuíram acentuadamente." Esse é o parecer do Sub-Tenente Luis Marques Modesto, do 2º Pelotão da 3ª Companhia do 5º Batalhão, que atua em Ibiporã. O Sub-Tenente afirma que nunca foi permitido dirigir alcoolizado, mas havia uma tolerância. Hoje, devido o maior rigor, a multa, para quem for flagrado, dirigindo alcoolizado, pode chegar a R$985,00, além de culminar na apreensão do veiculo, da habilitação e na suspensão da CNH (Carteira Nacional de Habilitação) por um ano. "As ocorrências são baixas e em termos de fiscalização, até o momento foram dois casos efetivos de embriagueis no perímetro urbano de Ibiporã, mas sem acidentes", relata.

Para que haja maior controle e se evite tragédias, Modesto afirma que a população deve ser atuante e denunciar, pelo 190, motoristas que forem flagrados bêbados, além de descrições como placa, marca, modelo e cor do veiculo. Com isso há apreensão e se evita acidentes.

A tolerância para o álcool é zero e se no bafômetro for detectado a porcentagem de até 0,6 miligramas, o motorista é submetido a sansão administrativa, desde que não se envolva em acidente. Acima da referência, além das penalidades administrativas, ele se submete ao artigo nº. 306, do Código de Trânsito, que configura crime com pena de seis meses a três anos. "Um a dois copos de cerveja ultrapassa 0,6 miligramas", completa Modesto.

O Sub-Tenente explica que o maior rigor preserva vidas e diminui os gastos do Governo Federal com hospitais. "A redução de acidentes desafoga hospitais. Muitos não acreditam nas leis, pois há pessoas que se envolvem em acidentes e são liberados por fiança. Se houver vítima, o infrator deveria ficar detido até determinação do juiz". O Sub-Tenente tem toda razão. Hoje, no Brasil, mesmo que o motorista faça uma vítima fatal, que resulta em morte, através da fiança, pode ganhar a liberdade. Como no último dia 20, quando um acidente deixou duas vítimas fatais na PR 445, KM 81,700. O caminhão Mercedes-Benz, placas AHD 0543, de Cambé, conduzido por José da Silva Ramalho, 50 anos, colidiu na traseira da motoneta Jog Yamaha, placa AKC 2922, de Cambé, que tinha por condutor José Luis da Silva, 59 e como acompanhante Maria das Graças Soares, 53. Com o choque, as vitimas foram a óbito no local e o condutor do caminhão se evadiu. Denunciado pelo 190 e localizado, Ramalho passou pelo teste do etilômetro, que constatou o volume de 0,65 miligramas/litro de álcool. O mesmo foi encaminhado a Delegacia de Cambe e autuado no artigo 165 do Código de Transito, que é dirigir embriagado, além de responder processo por homicídio.

Este tipo de situação revolta a todos. Mesmo com a polêmica e o maior rigor da lei, os moradores de Ibiporã, em unanimidade disseram que a severidade evita mortes, como o exemplo de Valdomiro de Caires, 57, morador no Las Vegas. Ele diz que não se pode nem pensar de tirar essa lei. "Muitas vidas se foram devido à combinação de álcool e volante. Isso tinha que ser feito antes e quem bebe e provoca acidentes de transito tinha mesmo é que ir para a cadeia, como também aqueles que abusam do excesso de velocidade. O Brasil tinha que acabar com o habeas-corpus. Ele é indicio de impunidade." Valdomiro presenciou acidentes envolvendo pessoas embriagadas. "A bebida torna a direção perigosa. Deve existir tolerância zero para que haja mais respeito", conclui.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Notas Eleitorais

Segundo o Cartório Eleitoral de Ibiporã, nesse ano não haverá alteração no número de cadeiras no Legislativo. Ao todo são nove vagas, de acordo com a quantidade de eleitores cadastrados, que em Ibiporã é exatamente 34.409, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Para quem não sabe, o Cartório Eleitoral cuida do Título de Eleitor, Registro de Candidaturas e prepara a eleição. Os funcionários do Cartório passam por treinamentos e disseram que as urnas eletrônicas já chegaram a Ibiporã. Ao todo são 98 locais de votação e a cidade possui 110 urnas, caso ocorra algum imprevisto.

No inicio de agosto começam a ser notificados os mesários que trabalharam no dia da eleição. Os cargos consistem em: Presidente, 1º e 2º mesário, 1º e 2º secretário. O treinamento, que será no Tribunal do Júri do Fórum, é de um dia.

"Dê uma aula de Cidadania nestas eleições. Seja mesário voluntário". Com esse slogan, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná e Assembléia Legislativa convidam todos os paranaenses aptos a se candidatar voluntariamente para trabalhar como mesário no dia da eleição. Um mesário recepciona e orienta os eleitores, coordena trabalhos da mesa receptora de votos e colabora com a realização das eleições. As inscrições podem ser feitas no TRE (Tribunal Regional Eleitoral), pela internet, no site http://www.tre-pr.gov.br/ ou procurar o Cartório Eleitoral em Ibiporã, que fica na Avenida dos Estudantes, 351, com o Título de Eleitor em mãos. Ele funciona de segunda a sexta, das 8hs30min às 11 horas e das 13 às 17 horas. Como estamos no período eleitoral, o cartório funcionará aos sábados e domingos, das 13 às 17 horas.

Os voluntários ganham dois dias de folga por dia de convocação, vale alimentação no dia do pleito e aos estudantes universitários são vinte horas extracurriculares. Em caso de empate no Concurso Público, é critério de desempate, caso haja previsão em edital.

Vamos lá participe e exerça o papel da cidadania. Ser mesário voluntário significa saber que um país cresce com o seu povo e que cada cidadão deve fazer parte no processo democrático. Além disso, ele dá condições para que os eleitores possam exercer a cidadania, garantindo a transparência do processo democrático.

Fiquem em alerta! Na data da eleição poderá ser feita apenas a "manifestação silenciosa", onde o eleitor poderá ir com a camiseta do seu candidato votar. O agrupamento de pessoas com camisetas de candidatos, a distribuição de santinhos e carros de som estão proibidos. Se houver flagrante, a pessoa será encaminhada a um local fechado e liberada ao fim da votação. Se houver agravante, a pessoa sofrerá processo penal.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O sonho dos Piratas - Parte I

O relógio-cuco, que Márcio havia ganhado de um amigo que viajara a negócios para a Alemanha, estava colocado bem no centro da parede. Não se escutava outro barulho a não ser o dos ponteiros do relógio e o do suspiro de Márcio, que dormia profundamente com a janela aberta naquela quente noite de verão.
Apesar de ser jovem, Márcio, um executivo recém-formado em administração, montou, com seus sócios, um belo escritório no centro da cidade e já tinha uma agenda cheia de clientes. Como trabalhava muito, sempre dormia e acordava cedo. Nas horas de folga, preferia ficar em casa. Morava no litoral, tinha um bom salário, mas estava sozinho, pois ainda não havia encontrado a pessoa perfeita para dividir o mesmo teto. Mesmo assim, não se sentia isolado e paquerava as garotas que lhe chamavam a atenção.
Já eram mais de três horas da manhã, e o cuco, que saia de sua casinha as seis, ainda dormia quando Márcio começa teve um sonho estranho.
Estava no mar, perdido dentro de um pequeno barco, sem remos e alguém que o ajudasse. Desesperado, perdido e só, não via nada além de água. O que poderia estar acontecendo com ele? Por que estava ali, perdido no mar, sem ninguém para lhe ajudar? Tinha vontade de ir embora, mas não sabia o que fazer.
Já sem esperanças, ouviu um barulho ensurdecedor. Sentiu o vento e as ondas se agitarem e aumentarem a cada instante, balançando seu barco cada vez mais. De repente, apareceu na sua frente um grande barco com uma bandeira estranha. Seria dali que vinha o apito? Era a sua salvação? Márcio não titubeou, começou a gritar e a gesticular para chamar a atenção. A escuna acabou vindo em sua direção. “Ainda bem”, pensou. Uma corda foi jogada com a qual Márcio subiu na escuna. No convés, não avistou ninguém, dirigiu-se para a parte central, onde ficava o timão, e viu um senhor de os olhos verdes e uma barba branca. Apesar disso, não aparentava ser muito velho. Apresentou-se como Capitão Jean e foi logo informando que a tripulação estava repousando. Eles eram corsários franceses e acabavam de sair de um conflito com um navio mercante inglês. Saquearam ouro, prata e outros valores, porém, grande parte do tesouro havia caído no mar, assim como vários homens das duas tripulações. Ele também se apresentou e explicou que era brasileiro, morava no Rio de Janeiro e não sabia como fora para ali.
Só então percebeu que estava num navio de piratas.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O sonho - Parte II

Márcio lhe pediu que o deixasse em terra firme para poder voltar para casa.
— Capitão, onde estamos?
— Temos um carregamento de açúcar para interceptar. Não podemos perder tempo, pois outros piratas querem o “ouro branco” — foi a sua resposta.
“Como isso foi acontecer comigo?”, perguntou-se. Não conseguia acordar deste sonho, que o prendera ao mar e a um navio de piratas.
De repente, surgiu o navio mercante que deveria ser interceptado.
— Içar velas. Avante homens. Mirar os canhões.
As palavras do capitão lhe arrepiaram a espinha, pois iria começar o ataque.
No embate, as duas embarcações começaram a afundar. Desesperado, ele viu que a sua única salvação era o barco que os piratas estavam descendo para o mar.
Com ele, chegaram numa ilha e os outros foram buscar abrigo e socorro, deixando-o sozinho. Embora desesperado, ponderou que estava em terra firme e que nada seria pior do que estar perdido no mar.
Com fome, resolveu pescar um peixe e assá-lo numa fogueira feita com pedras e madeira. Porém, quando pegava a madeira, Márcio se deparou com uma linda nativa. A garota estava nua e ficou assustada ao vê-lo.
— Quem é você? — perguntou ela.
— Sou Márcio. Estou perdido e com fome. Como é seu nome?
— Sou Janaína e moro aqui.
Márcio não queria mais acordar daquele sonho, pois Janaina não era um pesadelo.
A nativa o levou até a uma cabana de tapera, onde havia colocado, sobre uma folha de bananeira, peixes, frutas, água etc. Quando saciou a fome, ela disse que aquele era o seu futuro e que, algum dia, eles iriam se encontrar para viver um grande romance. Tudo o que havia acontecido era coisa do destino e que as coisas mudam não conforme as nossas vontades, mas conforme as nossas ações. Ele concluiu que, durante todo aquele tempo, só desejou algo que o confortasse.
A nativa disse que lhe daria uma prova de que tudo aquilo era verdade.
— Você alcançará tudo o que quiser. Insista , nunca desista.
Quando ela ia tocar seus lábios, ele acordou com o barulho do despertador.
Durante vários dias, a imagem de Janaína não saiu de sua mente. Nas ruas tentava ver a imagem de Janaína refletida nos prédios, como uma santa ou uma divindade, mas nada de encontrar a misteriosa nativa. Voltava para casa com esperanças de sonhar com aquela paixão, mas nada acontecia. Tentava de todas as formas lembrar aqueles poucos momentos que pareciam eternos. Por mais que tente sonhar com a garota, baseado nas palavras de que tudo o que você faz resulta numa conseqüência, nada de diferente acontecia.
No entanto, sua obstinação, foi tanta, que começou uma busca insensata. Colocou anúncios em jornais que descreviam a moça. Foi para internet e buscou inúmeros perfis. Mas nada encontrou. Sozinho, se lembrava da situação em que estava desprotegido e foi confortado por aquela que lhe deu de comer e beber.
Começou a acreditar que tudo aquilo não passava de um sonho, uma alucinação. Desistiu, sabendo que a vida é real e que nunca se deve entregue ao sonho e não vivendo baseado em ilusões. A vida é feita de competições e ele não podia perder tempo alimentando desejos insólitos e infundados que se baseavam em irrealidades provocadas pelo desejo e até quem sabe pelo stress moderno.
Márcio, novamente levava uma vida normal e pacata, com suas rotinas e cumprindo suas obrigações. Em seus sonhos, já não tinha mais devaneios ou ilusões contraditórias, mas por incrível que pareça, sonhava com coisas relacionadas ao seu trabalho, como o esforço para não perder um negócio ou não perder um cliente.
Mas, como a vida e a sua formação são mistérios que ninguém pode explicar, Márcio, chega a casa, liga sua secretária eletrônica e ouve um recado. Quem poderia ser? Ao ouvir a mensagem, a pessoa do outro lado da linha se referia ao anúncio no jornal que procurava uma garota que morava próximo à praia e se chamava Janaína. A moça falou que se ele estivesse interessado, poderia ligar para ela, mas no entanto, ela deu um número muito estranho: 300-300-3000.
- Que número diferente, acho que vou ligar agora mesmo.
Já era tarde, se passavam das 23 horas, mas mesmo assim, ligou para Janaina.
- Alô? Gostaria de falar com a Janaina.
- É ela mesma, quem fala?
- Sou eu, o Márcio, que colocou o anúncio no jornal.
- Há, é você, porque demorou tanto para me ligar? Faz duas semanas que estou tentando falar com você e nada.
Ele não entendeu a conversa da moça, pois escutou a gravação naquele dia. Mas, para não ser chato, inventou que estava viajando e que só hoje conseguiu ouvir os recados.
Como ele havia ligado para ela, começaram a conversar e ficaram muito amigos. Ela lhe falou alguns segredos e ele lhe fez várias confidências e declarações.
A amizade e a cumplicidade aumentou e os dois resolveram se encontrar na beira da praia, como ela sugeriu. Com encontro marcado, Márcio vai dormir e novamente sonha com Janaina, já não mais despida, mas com uma bela roupa branca que significava a pureza. No sonho, disse para ele não ficar preocupado, pois gostava muito dele, mas não podia ir, pois fazia parte da sua imaginação e representava um desejo oprimido.
No dia e na hora marcada, Márcio coloca sua melhor roupa e foi ao encontro. Senta-se num banco e a espera. Ela não aparece e ele ficou mais de quatro horas esperando. Inconformado, liga para o número 300-300-3000, no qual ninguém atende. Insatisfeito, liga para operadora telefônica e a mesma informa que o número não existe. Sem entender nada, se vira para o mar e nota que o mesmo navio que o havia recolhido do mar, passava bem a sua frente. Ele não entendeu e ao fechar os olhos e os abrir novamente, notou que o navio havia desaparecido.
Vai embora e imagina como aquela moça que ele conheceu por telefone e conversou durante vários dias não foi ao encontro e ele, ao retornar a ligação, é informado que o número não existe mesmo ligado várias vezes. E aquele navio, como apareceu e desapareceu misteriosamente?
Quando se deita, pensando em sonhar com Janaina, Márcio é acometido por uma febre e vai ao médico. A febre aumenta e Márcio se sente muito mal, ao ponto de ficar internado durante uma semana.
Conclusão: O médico de Márcio diagnosticou que ele sofria de dois distúrbios psiquiátricos conhecidos por bi-polar e esquizofrenia. No bi-polar, as pessoas sofrem alucinações e tem muitos devaneios, acreditando que situações imaginárias são reais. O médico disse que o barco e Janaina não eram mais do que fruto de sua imaginação. O barco representava as suas angústias e a nativa, uma fuga encontrada por seus anticorpos. Ao ligar para a moça, num número desconhecido, Márcio se induzia a acreditar que estava falando com alguém, mas, na verdade, tudo não passava de alucinações, que devido a sua vida estressante, gerou um quadro esquizofrênico depreciativo em que necessitava de alguém que o ajudasse à auto se afirmar e encontrar seus desejos.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Mototaxi - Parte I

Há tempos atrás, quem quisesse locomover-se durante a noite, comparecer a compromissos com urgência e não tinha condução própria, tinha que adiar ou chamar um táxi. Pensando nisso, motoqueiros se reuniram e criaram uma nova profissão, rendosa, mas perigosa: o mototaxi. O serviço funciona da seguinte maneira: o motoqueiro fica numa central com telefone fixo ou celular e o cliente liga pedindo corrida, com variação de preços dependendo o lugar solicitado. Quando surgiu teve muitas reclamações de taxistas devido à concorrência desproporcional. O valor cobrado pelo mototaxi é quase 70% mais barato. Mas não creia que as reclamações ficavam só nisso. Alguns passageiros alegam que apesar de barato e rápido, oferece pouca segurança e exposição a acidentes. A última reclamação é o uso do capacete coletivo, que segundo a Vigilância Sanitária, dissemina doenças pela falta de higienização. Os fatos citados mostram que controvérsias e discussões sobre o mototaxi foram refletidos em jornais, debates televisivos e alvo de pendengas judiciais que impediram o serviço por longo tempo. Causou revolta da classe, que se organizou em grupos e sindicatos que representam e defendem os interesses. Organizados, fizeram carreatas e buzinaços para a profissão ser regulamentada. Após debates entre a classe, sociedade, imprensa, meios jurídicos e políticos, o mototaxista foi reconhecido e regularizado pela lei. Hoje, pipocam aos montes em diversas cidades do país. Foi num pontos desses, criado, regularizado e funcionando conforme a lei, que atuava Marcus, um rapaz de 28 anos, que pagava as parcelas da moto financiada em 36 vezes. Havia pagado até aquele dia cinco parcelas. Marcus tinha muitas dificuldades, como chuva, frio, noites mal dormidas e perigo iminente de assalto. Tirava em torno de 50 reais por dia. Nos finais de semana e à noite, o lucro era maior, chegando à casa dos 80 reais. Deste montante, pagava 10% de comissão ao dono da central, gastava em torno de 20 reais com gasolina e o resto guardava para saldar dívidas da moto e manter sua família. O trabalho era honesto, mas não tão bem remunerado devido a noites mal dormidas e a periculosidade de perigos letais como ser vítima de assalto ou na pior das hipóteses ser alvo de um latrocínio. Nas noites chuvosas, as corridas diminuem drasticamente devido os passageiros não se exporem à chuva ou medo de acidentes. Nestas noites os assaltos aumentam ainda mais. A chuva batia com intensidade no telhado, quando chega ao ponto 1048, o mesmo onde Marcus trabalhava com a moto 15.509, um sujeito que pergunta o valor da corrida. O rapaz era saudável e aparentava 22 anos. Era alto, magro, branco com os olhos claros, usava jeans, camiseta azul clara e jaqueta preta. Marcus percebendo a entrada do estranho assustou-se com a visão devido ser mais duas horas. Ele se aproxima e Marcus não mostra reação. Chega mais perto da luz e é possível ver seu rosto com mais detalhes e intensidade. Com a voz rouca, pergunta o preço da corrida até determinado bairro. Apesar do horário, viu que o rapaz não estava mal intencionado e com um sorriso nos lábios, diz que a corrida sairia por 10 reais devido à distância e a chuva torrencial, aquele dia parecia que caia um dilúvio. O jovem retribuiu o sorriso e disse que voltava do trabalho, perdeu o ônibus e tinha que acordar de manhã. Barganhou um preço mais baixo. Marcus disse que não. O sujeito então colocou a mão direita para trás e sacou do bolso a carteira. Eram duas notas de cinco reais. O mototaxista perguntou o endereço, o caminho mais rápido e seguro. Entregou o capacete e uma capa para se proteger da chuva. Vestiu sua capa e o rapaz subiu na moto.
- Esta corrida vai ser difícil. A chuva está muito forte. Disse Marcus. Naquele momento, não sabia que sofreria a pior histórias da sua vida, que nunca mais gostaria de lembrar.

terça-feira, 22 de julho de 2008

O mototaxi - Parte II

O bairro era distante e Marcus acelerava para chegar ao destino. Conhecia aquela rota e sabia que todo cuidado era pouco para que algo de ruim não acontecesse. Nos primeiros quilômetros e apesar da chuva, a velocidade passava dos 80 quilômetros e o passageiro, que agora não demonstrava nenhum comportamento suspeito, abraçou Marcus com a mão esquerda e com a direita encostou algo em suas costas. Era um revólver calibre 38 de cano longo. Assustado e prevendo o que se tratava Marcus não motivou nenhuma reação que pudesse dar fim a sua vida. O ladrão então deu a voz de assalto e disse se houvesse reação, acabaria com sua vida naquele instante. Marcus ficou quieto e parou a moto no meio da chuva, próximo a uma plantação de soja. Passado a tensão inicial e com uma arma apontada para sua cabeça, Marcus nota a aproximação de um farol. Imaginou ser uma ajuda e que estaria salvo. Levo engano. Do outro lado vinham os comparsas do bandido que o fazia passar por horrores. Permaneceu quieto e os marginais se aproximaram em outra moto. Os faróis altos indicavam para ele não olhar em seus rostos. Essa foi à ordem dada pelo bandido que apontava uma arma para sua cabeça. Chegaram afirmando que aquilo era um assalto e que não era para ele se preocupar. Queriam a moto para praticar assaltos a estabelecimento comerciais, postos de combustíveis, lojas de conveniências e farmácias que estivessem abertos naquele horário. Sem esboçar reação e o rosto abaixado para não ver a face dos algozes, Marcus ficou quieto e em pensamentos rezou para que os bandidos só estivessem interessados na moto.
Sem reação da vítima, os bandidos pilharam Marcus para que entregasse o dinheiro que tinha. Mas, por medida cautelar e de segurança, ele não andava com mais de 20 reais para troco. Deixava o resto guardado na central. Ficou com medo de estar com os bolsos vazios e ser morto. Não pensava em nada. Queria o fim do sofrimento, que os ladrões levassem sua moto, pertences como relógio e celular e a pequena quantia de dinheiro que tinha. Podiam levar tudo desde que não tirassem sua vida.
O momento angustiante fez que poucos minutos se tornassem em eternidade. Cenas de sua vida passavam-se em sua cabeça. Via sua família e rezava para sair daquela fria. Jamais se arriscou tanto para ganhar tão pouco dinheiro. O medo, o pavor e o horror tomavam conta do seu corpo. Não havia como recuar naquele momento. Entregou tudo na mão de Deus e rezou mais uma vez para que tivessem compaixão de sua vida.
- Vamos lá, vamos lá, compadre. Dá logo a chave da moto e todo o dinheiro. Também quero o relógio, o celular e os documentos da moto.
Pronto. O grito do ladrão tirou Marcus dum transe profundo. Sem pestanejar colocou tudo no banco da moto e virou-se de costas para não reconhecer os assaltantes. Colocou as mãos na cabeça e nem se lembrou que a moto foi tirada há pouco tempo e ainda tinha várias parcelas para serem pagas.
Desconfiados que Marcus chamasse a polícia, os bandidos covardes o fizeram tirar as roupas, amarraram as mãos e os pés e o jogaram na plantação de soja. Esse cuidado foi necessário parar gerar mais tempo na execução das ações criminosas.
Para Marcus foram horas angustiantes e dramáticas debaixo duma forte chuva. Seu martírio terminou em torno das seis horas, quando um senhor que passava de bicicleta, próximo à plantação de soja, notou uma diferença na coloração verde. Curioso, foi até Marcus, ajudou-o a libertar-se e chamaram a Polícia, que compareceu ao local e o levou até a Delegacia para prestar queixa. Na Delegacia, a primeira atitude foi ligar na central, dizer o acontecido e pedir a um colega para lhe buscar. Seu sofrimento, apesar da perca da moto, terminou. Com a chegada do amigo, explicou a situação e contou detalhes da noite de horror. O delegado de plantão, disse que as viaturas anotaram a placa da moto e qualquer movimento ou moto suspeita com as características seria abordada para averiguação detalhada. Os bandidos saíram em disparada, inebriantes e austeros com o sucesso e a façanha do crime. No entanto, não lhes cabiam um desfecho tão emocionante quanto o reservado aos bandidos do cinema. Após a prática do assalto e mesmo chovendo muito forte, eles saíram em alta velocidade pelas avenidas e estabelecimentos comerciais abertos, a fim de cometerem mais assaltos. O mototaxista que estava deitado na soja, só podia escutar de longe o barulho do motor de sua moto.
Bem de manhãzinha, após passar a noite acordado e com uma terrível dor nas costas por ficar deitado no banco da delegacia, Marcus é informado que um suspeito foi preso em flagrante, do outro lado da cidade com sua moto. Estava um pouco danificada devido a uma queda na perseguição. Os policiais que efetuaram a prisão e o recolheram no distrito, disseram que o marginal, junto com dois suspeitos, renderam o atendente dum posto de combustíveis e iniciaram um violento assalto ao caixa. Após a ação, a PM foi acionada, localizou os três, fez acompanhamento tático e perseguição. Depois de alguns minutos e iniciado um tiroteio, o marginal que estava na moto de Marcus levou um tiro e, ferido pelo disparo, não teve condições de empreender fuga e caiu no chão, para logo ser aprendido. Os outros dois bandidos se evadiram sem deixar pistas. Levado para a enfermaria da delegacia, o bandido foi imediatamente reconhecido pelo frentista e por Marcus. Naquela noite, o mesmo bandido assaltou um coletivo, a moto de Marcus e o posto de combustíveis. Todos os assaltos à mão armada. Machucado pela queda e com uma bala nas costas, o preso foi encaminhado ao hospital e depois para o distrito policial, onde esperaria o processo pelas atrocidades cometidas. Marcus recuperou sua moto e até hoje agradece a Deus por estar vivo. Sempre que faz uma corrida, toma cuidado e presta atenção para que o sofrimento daquela noite chuvosa não se repita nunca mais.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Famílias deixam fundo de vale para viver a realidade da casa própria

A entidade “O Ylê Axé Òpó Omin I”, fundada em 17 de dezembro de 1988, teve grande influência para que diversas famílias que moravam no fundo de vale do Aquiles Stenghel, conquistassem o direito à casa própria. A entidade é fundamentada na cultura africana e tem sua origem espiritual na mesma. “Nossa missão partiu da vontade de fazer um trabalho social. Oferecemos almoço a crianças carentes”, diz Terezinha Pereira da Silva, 48, que mora no Maria Cecília e coordena a entidade que atende em torno de 221 famílias do Vale da Lua, Vale do Sol, Primavera e Jardim dos Campos. “O Ylê Axé Òpó Omin I” leva a cidadania aos mais carentes através de oficinas culturais e o combate a pobreza, oferecendo um ofício e trabalho aos interessados. Há palestras de combate a dengue, Lei Maria da Penha (que defende o direito das mulheres), cidadania e parceiras com a Universidade Estadual de Londrina, com a “Universidade sem fronteiras”.
Quanto à conquista das casas, Terezinha relembra como foi o processo de invasão do fundo de vale. “Muitas pessoas não tinham condições de pagar aluguel. Em 1995, várias famílias invadiram o fundo de vale e deram início ao Vale da Lua. Em 1997 começou o Vale do Sol”, diz. Na ocasião, os moradores corriam riscos com a água contaminada, enchentes e falta de energia elétrica. Foi implantada a ‘torneira comunitária’ e a ‘energia elétrica comunitária’. Apesar disso, alguns moradores obtiveram dificuldades em pagar a energia, pela falta de emprego. “A COPEL não quis instalar energia individual devido à invasão ser um terreno irregular”. Observando que as dificuldades somente aumentavam, a comunidade se organizou e no ano de 2002, após diversas assembléias e reuniões na Prefeitura e na COHAB tiveram como resposta a remoção das famílias. Em 2005 as primeiras casas começaram a ser entregues no Jardim Primavera.
Uma das beneficiadas é a doméstica Idelzuita Valéria de Souza, 45. “Tinha muitas dificuldades para arrumar emprego porque não tinha comprovante de residência”, diz. Sua vida mudou. Se antes morava num fundo de vale, hoje mora numa casa de 57m² com quintal de 200m². “Planto árvores frutíferas e diversas ervas. Assim como eu, quero que outros conquistem suas casas”, afirma Idelzuita, com orgulho.
Carlos Eduardo Afonso, presidente da COHAB, diz que ao todo serão entregues 257 casas até o inicio de novembro. 66 casas já estão ocupadas e são em torno de 70 operários, da região, que executam a obra.

sábado, 19 de julho de 2008

Moradores afirmam que durante três anos, foram descarregados mais de mil caminhões com entulhos no fundo de vale

No terreno onde fora construído o Conjunto José Giordano, em 1996, funcionava o Sítio Emaús. Haviam plantações de café, soja, algodão, pomar e uma grande represa. Diversas gestões de associações de moradores, em vão, tentaram fazer um campo de futebol no Giordano. Para isso, foram despejados milhares de caminhões com entulhos no fundo de vale. “Durante três anos, a cada dia vinham mais de sessenta caminhões jogar entulho. Formou-se uma montanha com mais de cinqüenta metros. Por fim, o campo não saiu do papel”, diz Antonio Rogério Santos Ribas, 39, pioneiro no Giordano. Devido à falta de limpeza e roçagem, o mato cresceu e o fundo de vale se tornou depósito de lixo e potencial criadouro para insetos, como o mosquito da dengue, além de cobras. “Antes dos entulhos, era feita a limpeza e roçagem do fundo de vale. Tamanha era a limpeza, que até tentaram invadir o local”, diz Jiobide Pinto de Souza, 35. Celso Melchiades, 48, membro da FECAMPAR (Federação das Entidades Comunitárias e Associações de Moradores do Paraná) confirma o alerta. “Foram encontrados pneus e lixo hospitalar no fundo de vale. Jogaram um cachorro morto em frente da minha casa. O matagal virou esconderijo de marginais. É perigoso uma criança ir brincar no local, cair num fosso ou se cortar com pedaços de piso, vidro ou vasos sanitários”, completa Celso. Um dos primeiros moradores do Giordano, o comerciante José Adilson Santos, 44, conhecido como Tamarana, diz que a revolta dos moradores é tanta, que existem vídeos gravados com os caminhões despejando entulho. Tamarana afirma que após muita insistência, a CMTU (Companhia Municipal de Transito e Urbanização), forneceu nove placas indicando que é proibido jogar lixo no local. É comum, moradores de outros bairros depositarem lixo no fundo de vale. “A CMTU deveria multar quem faz isso”, diz o comerciante. Em resposta ao ZN, o secretário de Meio Ambiente, Gerson da Silva, disse que a empresa Só Obras foi à responsável pelo lançamento de entulhos, a pedido da Associação de Moradores do José Giordano. Sendo que em 2007, um caminhão da empresa foi apreendido, ficando proibido de se jogar entulho no local. A infração/multa será compensada/revertida na reforma do Parque Arthur Thomas. “Não há como punir os responsáveis, muito menos se fazer a retirada do entulho”, diz Gerson. O secretário afirma que para essa gestão não existe nenhum projeto para o fundo de vale, devido o custo ser muito alto. “A atitude partiu da Associação de Moradores por falta de conhecimento. Serão necessários engenheiros e técnicos para um estudo aprofundado”, conclui. Luis Bárbara, atual presidente da Associação de Moradores do José Giordano afirma que “aquilo não começou de uma hora para outra e isso dura mais de cinco anos”, se referindo ao acumulo de entulho no fundo de vale. Bárbara diz que não há previsão para que tudo seja solucionado e que o campo já poderia ser construído, mas há impedimentos jurídicos. “Se houver liberação, entramos com as máquinas e construímos o campo”, concluí. Quanto a capina e roçagem, o responsável, pelo setor, Marcelo Barreto, da CMTU, afirma que foram diversos os ofícios encaminhados a companhia e que em breve, será feita a limpeza da área.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Era mesmo um milagre???


Numa pequena cidade do interior, cuja principal fonte de renda era agricultura familiar, o povo simples mantinha vivos em seus corações o espírito nativo, as lendas e os costumes. Os “causos” deixavam todos abismados durante dias. Tia Nega, uma centenária que viveu na época da escravidão, com os cabelos mais brancos do que algodão, contava a maioria deles.
Os mais novos, sempre ávidos e curiosos, se reuniam perto dela para escutar suas histórias que deixavam todos com medo até de ir embora na escuridão. Era sempre assim, principalmente em noite de lua cheia.
Era um “fórfel” danado quando descobriam que ela tinha uma nova história para contar, muitas vezes inspiradas em cordéis que alguém trazia, como o de José Costa Leite: “A véia debaixo da cama e a perna cabeluda”. Esse cordel provocava tanto medo, que já vinha com a Oração da Pedra Cristalina, que além de proteger quem a lesse, também “fechava o corpo” contra as coisas ruins.
Quando Tia Nega contou a lenda de Quixambá, todos rezaram a Oração da Pedra Cristalina para ir embora.
A lenda era assim:
“No meio do cafezal por onde muitos de vocês passam para ir embora, mora, num buraco debaixo da terra, um monstro chamado Quixambá. Ele tem corpo de cachorro e a cara desfigurada de um homem. É tão feio que usa uma máscara feita com crânio humano. A fera astuta corre muito e ataca as pessoas pelas costas, mordendo seus calcanhares e arrancando a pele do pé. Depois da mordida, as pessoas não agüentam andar e o monstro despedaça suas vítimas para que sua matilha de filhotes se sirva.” Todos que estavam na roda se assustaram, mas Tia Nega continuou:
“Quixambá era um homem errante que vivia naquela região, escondido no meio dos cafezais. Dormia e comia com vira-latas e tomava leite no peito de cadela prenha. Disputava comida com um deles quando foi mordido e levado a um hospital para curar suas feridas. No entanto, fugiu de lá e ninguém mais o viu. Certo dia, um senhor que passava pelo meio do cafezal encontrou Quixambá agachado em meio às folhagens e lhe perguntou o que fazia ali. Repentinamente, sua feição mudou e com os caninos avantajados, Quixambá começou a latir. O senhor saiu correndo e, ao olhar para trás, percebeu que ele não era mais humano e, sim, uma fera com corpo de cachorro e face humana. Parecia o lobisomem.”
A lenda de Quixambá estava tão envolvente, que as pessoas se aproximaram para prestar mais atenção.
“Este senhor nunca mais viu Quixambá. No entanto, após este episódio, muitos animais de criação começaram a sumir. Em seus lugares, apareciam ossadas sem qualquer vestígio de carne. Assustados, os moradores da região desconfiaram de Quixambá e soltaram ratos no cafezal para localizar e capturar a besta fera. Numa destas armadilhas, escutaram um ratinho gritando e foram conferir. Lá estava, no meio do cafezal, Quixambá com o rosto cheio de sangue. Atiraram nele, desfigurando ainda mais seu já dilacerado rosto. Porém, tudo foi em vão. Quixambá era muito forte e, num salto, pulou na garganta de um deles. Numa mordida arrancou sua cabeça, grudou-a na boca e correu para dentro do cafezal. Ninguém mais teve coragem de caçá-lo. Dizem que ele usa justamente este crânio para esconder as marcas do seu rosto. Afirma-se também que Quixambá, apesar de ser uma fera, sabe que um dia foi homem e se amaldiçoa por ter comido com cães e virado um deles. Hoje, vaga pelos cafezais, plantações e matas da” região.”
Todos gelaram de medo. Joaquim, um rapaz que estava na roda, levantou-se e gritou:
— Olha o Quixambá!
Quem estava mais longe quase desmaiou com a brincadeira. Ninguém sabia se o monstro existia ou não, mas ficaram com receio de atravessar pelo cafezal.
Outra vez, tia Nega contou que leu, no jornal, que havia um homem parecido com Jesus, pois andava em cima das águas. Nesse dia, toda a criançada que brincava descalça pelas ruas foi até a casa dela escutar a história de umas pessoas que moravam perto de uma enorme represa abandonada, formada por um grande rio. A velha, com suas madeixas alvas como as nuvens e um olhar que brilhava e assombrava ao mesmo tempo, começou a contar:
“O povo estava angustiado, pois um barulho misterioso assombrava e irritava a todos, sem que ninguém soubesse o que era. Zé Pereira, curioso que só ele, escutava o turbilhão, que mexia as águas e causava um estrondo assustador, e queria ir até a represa ver quem fazia aquele barulho. Sua mãe, com medo do inesperado, falou para o filho se deitar.”
Antônio Pedregulho, seu pai, estava decidido a descobrir quem aterrorizava a comunidade. Levantou-se cedo e avisou que ia, com alguns homens, à represa, tamanha era a sua força de vontade e curiosidade. Eles caminharam dois quilômetros por uma picada aberta no mato, pedindo proteção divina. Lembraram que era para ser construída, naquela represa, uma grande hidrelétrica para fornecer energia e desenvolvimento para o local. Para que não derrubassem a mata nativa e alagassem as propriedades, os moradores se reuniram e pediram ao prefeito para não dar continuidade ao projeto, evitando assim um desastre ecológico. O prefeito, que só pensava em dinheiro e nem dava atenção à qualidade de vida da população, nem ligou. Revoltados, os moradores decidiram quebrar tudo e expulsar o prefeito e seus secretários.
Porém, naquele dia, o que havia na represa não eram homens com máquinas destruindo a natureza, e sim algo misterioso.
Eles chegaram ao lago e notaram algo estranho: o mato em volta estava mexido e derrubado por uma força sobrenatural. A área afetada era enorme, mas o que chamou mais a atenção foi o seu formato redondo com quatro marcas nos cantos.
Antônio Pedregulho se aproximou do lago, colocou uma vara na água e notou que ela era rasa. O pau afundava poucos centímetros. Todos concordaram que aquilo não era comum. Eles sempre iam pescar ali e sabiam que aquele trecho tinha pelo menos cinco metros de profundidade. Pedregulho resolveu entrar na água para se certificar que ali não tinha erosão ou sabotagem do prefeito.
— O pilantra jogou terra e pedra para ninguém pescar. Olha só o mato em volta todo derrubado. Ele mandou jogar muitos caminhões de pedra aqui.
Todos concordaram. Pedregulho tirou os sapatos e, sob o olhar aflito dos companheiros, entrou no lago.
— Se há pedras aqui, não as sinto embaixo dos meus pés — disse Pedregulho e começou a andar sobre as águas.
Todos avaliaram que aquilo era um milagre de verdade. Assustado, Pedregulho pediu para Zé Pereira chamar o pessoal da rádio comunitária. Como um foguete, Zé Pereira foi até a rádio e contou, ao vivo e em primeira mão, o que aconteceu. O radialista cético disse que só acreditava vendo. Chegando lá, viram Pedregulho andando por cima das águas num local que devia ter uns dez metros de profundidade. O radialista confirmou o furo. Ninguém acreditou. Equipes de televisão e jornal impresso correram para lá a fim de registrar o fato.
Quando a equipe de TV transmitiu ao vivo um caboclo andando na superfície das águas, todos passaram a acreditar que era um milagre. A partir daí, Pedregulho, um pacato cidadão, aparecia na TV como o Messias.
Estavam todos intrigados com a façanha de Pedregulho. Alguns afirmavam que ele era um farsante, pois devia ter colocado tábuas no lago e andado em cima delas.“
Um garoto que estava aos pés de Tia Nega perguntou se aquilo era verdade. Com o semblante sério, disse que sim, pois leu tudo no jornal. Ela então continuou a narrativa:
“Depois de virar celebridade momentânea, Pedregulho foi para casa. No entanto, naquela noite, o barulho voltou.”
De manhã, Pedregulho ligou para a rádio e mandou anunciar que quem duvidasse poderia ir até a beira da represa, ao meio dia, que ele mostraria a verdade. Muitos se aglomeraram em volta da represa e Pedregulho, de novo, entrou no lago sem afundar, convidando-os a entrar e comprovar a verdade.
Um morador da cidade, Pedro das Rocas, disse que, se Pedregulho era macho o bastante para entrar na água e não afundar, ele também era, e pulou no lago. Não afundou. Os mais corajosos fizeram o mesmo, eram mais de 50 homens andando sobre as águas. Zé Pereira percebeu que, no fundo do lago, havia uma plataforma. Por mais que tentasse, uma força gravitacional o impedia de afundar.
O lugar virou uma atração com direito a cachorro-quente, sorveteiro e pipoqueiro. De repente, o barulho ensurdecedor que apavorara a cidade durante várias noites, recomeçou. Zé Pereira, que estava na borda do lago, sentiu uma vibração e algo se movendo embaixo da água. Num movimento rápido, saiu correndo, como todos que estavam ali.
O barulho se tornou mais intenso, invadindo todo o ambiente. Como num filme de ficção científica, a água começou a borbulhar e saiu do lago um grande disco voador, captado pelas lentes dos fotógrafos. Zé Pereira não podia afundar devido à força magnética exercida pela nave.
O disco, que surpreendeu a todos, saiu do lago e subiu aos céus.
Absurdo ou verdade?
No outro dia, todos os jornais estampavam, na capa, a foto de Pedregulho andando pelas águas e, ao lado, a do disco voador.
A manchete anunciava:

DESVENDADO MISTÉRIO DO LAGO:
OVNI OPERAVA MILAGRE.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Soldado da Morte

Com seu fuzil ele caminha temeroso.
Não quer encontrar o inimigo.
Pede a Deus para que ele e seus companheiros não morram.
Esse é o soldado da paz que leva a morte.
Passou por vilas, cidades e construções,
viu homens mortos, mulheres e crianças desesperadas.
Quer voltar para casa e para os braços da amada,
cair na cama, ouvir seus discos, ler seus livros,
viver a juventude longe do front
e esquecer aqueles dias de ataques violentos.
Mas, o ódio tornou-se sua arma mais letal.
Não tem mais de 20 anos, mas matou mais de 20.
O medo anda ao seu lado, de braços dados e olhos abertos.
Não sabe ao certo quem se aproxima,
por quem luta,
e se essa guerra é justa.
Tem uma missão e não pode falhar.
Na cabeça, um capacete; nas costas, uma mochila; na mão, um fuzil.
Trocaria tudo por uma moto e uma garota.
Porém, é um soldado que leva a desgraça aos inocentes
e não pode perder essa guerra horrorosa.
Uma mina, um tiro, um ataque aéreo,
um passo em falso e é o fim de sua vida.
Não pode fechar os olhos.
Pobre soldado,
sua vitória nunca o livrará da derrota,
Que é a sua morte!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Povoado isolado

O povoado era isolado geograficamente das metrópoles e muito próximo de uma grande mata com uma infinidade de espécies animais. Portanto, o cotidiano de seus habitantes era muito influenciado pelos programas populares da televisão e das AM’s, pela religião e pelos discursos dos seus políticos. As pessoas, muito simples, discutiam na praça central as soluções que o governo lhes havia prometido na época das eleições, como a falta de estrutura viária e industrial, a ampliação do hospital e dos postos de saúde, construção de uma nova escola, transporte coletivo de qualidade, água encanada, esgoto e diversas outras benfeitorias. Os debates e as discussões eram tão acalorados que era comum os correligionários do prefeito saírem aos socos e pontapés com os correligionários do presidente da Câmara Municipal, ferrenho opositor do prefeito e aspirante ao seu cargo. As brigas chegavam até às páginas do jornal local e alimentavam os debates do dia seguinte.
O programa de Carlos Carrasco, um jornalista que anunciava as últimas notícias “do mundo cão” e abusava dos palavrões, estava entre os mais assistidos pela população pobre. Gordo e com duas olheiras bem grandes, tinha o modo de falar dos apresentadores do gênero. Para dar ênfase aos seus discursos, quebrava móveis e microfones no estúdio. Cheio de ambições políticas, o apresentador distribuía muitos prêmios, como tv’s, geladeiras, fogões, dinheiro etc. Não tomava partido nem do prefeito e muito menos do presidente da Câmara, na verdade, incitava um contra o outro, alimentando as brigas na praça central.
Haviam também aqueles que não davam importância para esse tipo de programa e ficavam sentados na varanda, conversando com os amigos, a família ou namorando. Dormiam cedo, pois tinham que trabalhar no dia seguinte. Mas, como também havia muito desemprego, alguns preferiam ficar na rua até tarde, pilhando ou bebendo. Esse era o povoado e seu povo, que gradativamente se transformava em cidade.
Sérgio Antônio, um caboclo simples, sério, religioso e com bom caráter, conseguiu fazer boa parte de seus estudos ali mesmo no povoado, numa escola de ensino médio. Seus amigos, tão simples quanto ele, tinham hábitos e costumes que a televisão não havia conseguido remover e mantinham a herança cultural deixada pelos seus ancestrais, como brincadeiras de roda, estórias de assombração, cantigas e etc.
Tonho, um menino feio e bem magrinho, nasceu pelas mãos de uma parteira, a Maria das Dores, uma senhora negra e muito bonita que fazia todos os partos do povoado. Os mais velhos diziam que ela aprendeu o ofício, ainda nova, com a sua avó, uma escrava senegalesa.
Ele já chegou causando transtorno e fazendo bagunça. Foi batizado na igreja de São Jorge, que ele considera até hoje seu padrinho.
Com o passar do tempo, se transformou em um religioso fervoroso, rezava todos os dias para o santo guerreiro e para a mãe pretinha para que o afastassem do caminho da mal. Ia à missa de domingo e participava de todas as festas religiosas.
Numa noite, teve um sonho que o deixou muito perturbado. Estava andando a cavalo, perto das matas do povoado, quando se deparou com uma imensa sombra que cobria todas as árvores. “Como o dia pode se transformar em noite?”, pensou. Tirou de seu peito um crucifixo e um escapulário de São Jorge e começou a rezar. Então, percebeu que a sombra, que se aproximava, era a projeção de algo gigantesco que fazia um barulho ensurdecedor. Desceu do cavalo e se ajoelhou com medo. Na sua frente, apareceu um monstro grande, quadrado e preto. Era tão alto que devia ter mais de 100 metros de altura. Junto dele estavam outros monstros não tão grandes. Tinham asas e voavam, fazendo um zumbido ainda maior que o primeiro. Tonho montou em seu cavalo e se escondeu no meio da mata. O monstro se aproximou do povoado e começou a comer, com sua boca mecânica, árvores, pedras, rios, animais e imensos pedaços de terra. Seus olhos estavam próximos a uma antena que ficava no centro de sua cabeça e se movimentava de um lado para outro, vasculhando o local em busca de “comida”. Antônio acordou assustado no momento em que o monstro ia devorá-lo.
Seria um presságio?
De manhã, ao abrir o jornal local, leu que uma grande mineradora estrangeira se instalaria na cidade, cuja população ganharia mais empregos e progresso. A matéria, estampada na capa do jornal, trazia a foto do prefeito e do presidente da Câmara abraçados ao empresário estrangeiro da mineradora WYK, que, segundo os políticos, transformaria finalmente o povoado numa cidade. O prefeito estava orgulhoso e o presidente da Câmara se gabava de ter negociado a vinda da WYK. Diziam que o povoado iria aumentar a arrecadação de impostos e exaltavam a empreitada da mineradora. Havia um anúncio vistoso no estilo anúncio-reportagem, feito pela mineradora WYK, que ocupava cinco páginas e nas quais explicava que aquele local foi escolhido por causa de seus recursos naturais. Para exportar ferro, alumínio e cobre a mais de 20 países, ela ocuparia um espaço equivalente a mil campos de futebol e geraria mais de dez mil empregos diretos e indiretos. Esta unidade seria a maior indústria desse tipo da América Latina.
Impressionado, Tonho se surpreendeu com um estranho e pequeno anúncio de apenas três linhas, publicado na seção de classificados:

CUIDADO
O monstro que está chegando pode nos levar à destruição.

O que poderia ser aquilo? Lembrou-se de seu sonho com o monstro gigante que comia tudo ao redor. Guardou o jornal num armário e foi até a praça central conversar.
Quando chegou na praça, Tonho viu um caminhão de som, com as placas da WYK, distribuindo doces para as crianças e brindes para os mais velhos. Eram chaveiros, bonés e camisetas, onde todos se aglomeravam e se acotovelavam para catar os brindes. Uns pulando em cima dos outros para ver quem pegava mais brindes. Assustado, Tonho viu bastante gente discutindo sobre a nova empresa que iria se instalar no povoado. Nas rodinhas, alguns exaltavam a façanha da empresa, que viria a ser a maior da América Latina e geraria muitos empregos e daria total infra-estrutura para o povoado. Outros, com medo, sabiam que aquilo poderia ser perigoso e uma mineradora daquele porte poderia destruir muitas coisas e mudar radicalmente a rotina do povoado. Tonho, que só escutava e não entrava nas rodas de discussão, só pensava em seu sonho e no anúncio do jornal, até que se lembrou do que leu e começou acreditar que aquele pesadelo, em que um monstro o tentava comer, poderia estar muito bem relacionado com aquela mineradora e com o caminhão que jogava as coisas na rua e fazia as pessoas se acotovelarem para pegar brindes. Voltou correndo para casa, chamou pelo pai, lhe contou o sonho e a vinda da empresa, admitindo de pés juntos que a mineradora iria destruir toda a mata em volta. Seu pai, acreditando nele, não sabia o que fazer e disse para o filho se acalmar, pois tudo não passava de um sonho e a mineradora iria resolver vários problemas da cidade. Sem ser ouvido pelo pai, Tonho voltou para a praça e no meio do caminho viu o caminhão da WYK e uma aglomeração ainda maior próximo a ele. Quando chegou mais perto, Tonho viu que um garoto, de uns doze anos, estava imprensado nos meios da roda do caminhão. Ele não podia se mexer, deveria ficar quieto. Se fizesse algum movimento mais brusco, poderia ser cortado ao meio pelas rodas do caminhão. Tonho não acreditava no estava vendo. Como poderia um garoto estar debaixo das rodas do caminhão? Vários homens tentaram de todas as formas tirar o garoto debaixo da roda, mas não havia jeito. Quando sua mãe chegou ao local, ele já estava quase desfalecido e somente consegui abraçar sua mãe, que chorando, viu a brutal morte do filho esmagado pela roda de um caminhão.
Tonho já sabia que aquela indústria poderia trazer mais transtornos ao povoado e depois daquela cena, suas previsões pareciam que se tornariam verdade. Seria ele comido ou tragado por aquela mandíbula de aço? Louco e sem a razão, saiu gritando pela rua que o apocalipse estava se aproximando e que aquela mineradora só iria lhes trazer a desgraça. Foi à praça central, subiu num banco e começou a discursar contra WYK. O prefeito e o presidente da Câmara, que estavam próximos, perguntaram quem era o louco e logo já mandaram à polícia o prender porque estava difamando a mineradora e desacatando os que estavam ali presentes.
- Como podem me prender? O que estou fazendo de errado?
De repente, via um microfone e uma câmera de TV na sua frente, era o Carlos Carrasco, que usava um boné da WYK e logo falou:
- E aí seu marginal, vagabundo. O que você ta aprontando aí na praça? Ta mexendo com os patrões do dinheiro por quê?
Desesperado e vendo que estava entrando numa fria, Tonho não deu resposta alguma para o repórter Carlos Carrasco, foi algemado e levado à delegacia. No interrogatório, o delegado lhe perguntou o motivo de tanta agitação. Contou o sonho e o delegado, vendo que era um falsário e um impostor, lhe mandou passar três infelizes meses na detenção por apenas ter falado algo que pressentia e por se revoltar diante da morte de um rapaz, atropelado por um caminhão.
Estes três meses foram muito angustiantes para o nosso protagonista. No xilindró, convivia com uma infinidade de bandidos periculosos. Haviam ali sujeitos que roubavam, assaltavam, aplicavam golpes e uma outra infinidade de ações que representavam grande risco a sociedade. Mas o que fazer, se nem direito a palavra ele tinha e por demonstrar uma insatisfação fora cruelmente encarcerado e jogado no mais fundo “porão”. No período de detenção, Tonho ficou sabendo, através de seu pai, que o povoado se transformou numa cidade. Seu pai contava, que, com o início da construção da WYK, que estava pronta para funcionar, misteriosamente, as meninas começaram a engravidar. Não se sabia se era obra do espírito santo, ou se foram os operários que fizeram as moças criarem barriga, pois muitas nem sabiam quem eram os pais de seus filhos. Outra que lhe assustou, foi que muitos começaram a morrer nas explosões da mineradora. Eram operários que não sabiam manusear as máquinas.
Mas a pior mudança, com a instalação da indústria, foram às matas ao redor, que tiveram que ser derrubadas e usadas como combustível para aquecer os altos fornos da metalúrgica. O pai de Tonho, falava tristemente que a WYK iria usar mais árvores para que os fornos da mineradora pudessem trabalhar dia e noite e que os rios, vinham aos poucos perdendo seus peixes devido à poluição que se acumulava. E não fora somente aquele jovem que foi vítima daquele caminhão e os que se envolviam em acidentes de trabalho que perdiam as vidas. Com a chegada de mais pessoas a cidade, aumentaram os envolvimento em brigas ocasionadas pelas bebedeiras e os acidentes de carro e atropelamentos aumentaram significamente.
No entanto, havia uma notícia que iria lhe causar mais espanto e tristeza. Seu pai recebera uma carta do prefeito, em que obrigava as pessoas a saírem das suas casas, para dar lugar a WYK. A casa que Tonho nasceu e sempre morou iria ser desapropriada para que em seu lugar fossem feitos campos de escavação de minérios. Quando soube da noticia, seu pai adoecera e corria serio risco de falecer.
Angustiado e revoltado com a situação, Tonho então bolou um plano mirabolante: iria escapar da cadeia e junto com outros detentos, iria colocar uma bomba na WYK. Terrorismo? Ação extrema? Quixotismo? ou Valentia? Nenhum destas ações ou adjetivos se encaixariam em Tonho, mas, o amor ao pai e o ódio contra aqueles que queriam desapropriar sua casa era maior.
Numa noite de sábado, em que os guardas estavam mais entretidos em discutir os acontecimentos do Carlos Carrasco, Tonho, junto com Carlão Preto, Zé Caolho, Daltinho e Sugos armaram uma fuga espetacular da cadeia. Fizeram uma “tereza” (vários lençóis amarrados que formam uma espécie de corda) e a jogaram para fora do presídio. A fuga foi tão perfeita que logo alcançaram a rua sem serem notados pelos guardas. Como estava escuro, se embrenharam pelas ruas, em dupla, para não chamarem a atenção.
Tonho conheceu os comparas na cadeia e cada um tinha uma história diferente. Carlão Preto e Zé Caolho eram arrombadores de lojas comerciais e faziam geralmente os seus serviços à noite. Foram presos por um descuido de Zé Carlão, que pisou sem querem no alarme de uma loja de materiais de construção. Daltinho e Sugos já eram bandidos mais especializados no crime e eram muito conhecidos na região pela prática de assalto a bancos e a caixas eletrônicos de instituições públicas. Daltinho, o mais arrojado, via onde tinha caixas de banco que não tinham guardas armados e a noite, junto com uma quadrilha especializada, dava voz de assalto aos guardas, os rendiam e os amarravam. Depois despregavam os caixas eletrônicos, colocavam-nos numa van para logo em seguida sacar o dinheiro. Era um crime perfeito, pois não usava da violência, não davam tiros, disparos com armas de fogo e o mais importante, os assaltos sempre eram feitos a instituições públicas, como prefeituras e hospitais como alvo principal os bancos estatais. Porém, Daltinho foi preso após um assalto em que a van que conduzia o dinheiro, estava muito inclinada devido o peso do caixa eletrônico. Isso chamou a atenção dos policiais.
Após se dispersarem e marcar um encontro na fábrica da WYK, cada dupla teria uma função naquela noite: Carlão Preto e Zé Caolho iriam a loja de artefatos explosivos, arrombariam a loja e pegariam explosivos e dinamites necessários para um atentado a mineradora. Tonho ficaria de guarda em frente da loja, caso alguém chegar e dar um flagrante neles. A outra dupla, Daltinho e Sugos iriam arrumar uma van para que os explosivos fossem transportados.
A primeira dupla e Tonho logo foram a uma loja de materiais explosivos e arrumaram algumas dinamites, pólvora, nitroglicerina e cordas para que o plano desse certo. Não encontraram dificuldades, porque Daltinho e Sugos já os esperavam numa van em frente à loja. Carregada às mercadorias, seguiram todos para a WYK e Tonho teve a brilhante idéia de colocar os explosivos bem no fundo da mineradora, para que não fosse chamada a atenção dos guardas. Feito isso, levaram a van no funda da WYK, descarregaram os explosivos e montaram-nos ali mesmo. A quantidade de explosivos era tão grande, que derrubaria 1/3 da fábrica em poucos segundos. Ainda era madrugada e não havia ninguém na rua e na fábrica.
Feita a bomba, e programada para explodir em cinco minutos, o grupo radical entrou na van e aceleraram o mais que puderam para não deixarem suspeitas. Conforme mais aceleravam a van, mais aumentavam os batimentos cardíacos de Tonho. Sugos, que contava no relógio, começou a falar: 5, 4, 3, 2, 1, agora. Uma grande explosão se escutou e um imenso clarão iluminou aquela madrugada que seria inesquecível para todos. Emocionados e conscientes do que fizeram, rumaram novamente para a cadeia, a fim de voltar as suas celas e esperar a repercussão dia seguinte.
Tonho, que aguardava a liberdade estava dormindo quando é acordado pelo carcereiro, que o chamava para uma visita de seu pai, que surpreendentemente lhe contou à notícia que foi dada com exclusividade pelo Carlos Carrasco. “Assustado”, Tonho não sabia o que fazer e ficou quieto, quando chega novamente, a sua cela, o carcereiro, com a mensagem de que o juiz o havia mandado lhe libertar devido ao bom comportamento. Feliz com a novidade, Tonho saiu para rua com seu pai e notou que o povoado havia se transformado numa cidade e que ali não conseguiria mais viver devido à destruição que a WYK havia feito no seu antigo povoado.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Salve o Líbano!!!

Mohamed chora
porque um dia foi feliz
mas não sabia.
Lembra de sua casa destruída,
pelas setas noturnas,
que voavam no dia.
O aviso veio do céu.
Parecia profecia.
Esta terra não lhe pertence.
Eram anúncios eloqüentes.
Abraão é o pai do povo,
Jesus morreu para libertá-lo,
Maomé ensinou-o com o Alcorão.
Mohamed não sabia que Canaã, Gaza e Palestina padeceriam.
É inocente e tem medo.
Israel e Hizbollah destróem o Líbano.
Milhares de libaneses são mortos e feridos
sem nada poder fazer.
Pobre Mohamed, pobre Líbano!
Vêem suas escolas, pontes, estradas e igrejas destruídas,
ações violentas de terroristas impiedosos.
Não interessam à nacionalidade, idade ou profissão,
qualquer um está condenado.
Viverá quem conseguir se refugiar ou abandonar sua terra.
Enquanto isso, as autoridades hipócritas alimentam o ódio,
pregam a paz e a união, mas mentem.
Se têm fé, não deveriam matar.
Há um belo final reservado a eles:
Queimar no lago de enxofre do inferno.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Cuidado com eles, pois estão a solta!!!!!

A cada quatro anos o Brasil vê a Copa, as Olimpíadas e a eleição.
Aí aparece o cara-de-pau, abraçando o povão.
Pede votos e aperta as mãos.
Come marmita, beija criança, anda até de busão.
Quem é ele?
É o político bonachão.
Fala muito, conta mentira, é gordo e até parece um porcão.
Roubou muito, aumentou impostos e é da turma do caixa dois e do mensalão.
Dorme no plenário, faz lobby pró-pedágio e até parentes contratou.
Diz que nepotismo não é ilegal e até é constitucional.
Faz aposentado ir para a fila da INSS, é malandro e gosta duma jogatina.
Contaram-me que ele está andando lado-a-lado com a corrupção.
Quando lhe falam a verdade, num quer nem saber.
Rola na lama e o chiqueiro é a sua grande praia.
Mentiroso, como si só, superfaturou a reforma da pracinha que custou mais de um milhão.
Pobre do povo que não percebe a roubalheira e até agradece pelo vale-miséria.
Mas é bom o porcão ficar esperto, porque deste ano ele não passa.
Avise-o que o Natal virá antecipadamente.
O povo vai acender o braseiro e como o porco está gordo, vai ter carne o ano inteiro.

domingo, 13 de julho de 2008

Quem é ela???

Quem é ela?
Com seu andar compassado, me surpreendo avidamente.
Sabia que o que mexia comigo era a inquietação complacente,
Não a paixão adolescente,
Algo que se tornava forte e envolvente.
O que fazer quando o coração mente?
Vale mais a alma ou a razão da gente?
Alguma coisa aconteceria: amor incandescente,
Atração indecente,
Revelando consequentemente,
Que na vida, o importante é o presente,
Sem sermos ausentes,
Ou penitentes.
Ela chega,
E mostra um olhar envolvente,
Seu brilho se confunde com a de uma estrela ascendente,
E ardente.
Seu sorriso, sua voz e a batida latente do coração.
Seus passos compassados me mostravam que estava carente.
Precisava conversar mostrar o quanto fiquei contente.
Por estar ali, diante de uma pessoa diferente.
Aproximei-me, consciente.
A vida poderia mudar daqui para frente.
Ela respondeu, com um sorriso saliente.
Outros momentos passam em minha mente.
Será hoje, finalmente?
- Olá, você está tão atraente!
- Viu uma estrela cadente?

sábado, 12 de julho de 2008

Loteria Esportiva

Marinho era um cara trabalhador. Chegava adiantado no trabalho, era o primeiro a ligar o computador e digitar as notas fiscais da entrada e saída de mercadorias. Sonhava com o reconhecimento, a promoção e conseqüentemente o aumento de salário.
O tempo passava e Marinho continuava um exemplo, disposto e disponível para qualquer coisa. Sua dedicação era tanta que não se importava quando o chefe lhe pedia para executar funções extras. Se houvesse alguma irregularidade, lá estava ele solucionando o problema.
Economizava até o último centavo para comprar uma moto 150cc, uma de suas ambições. Muitas vezes o convidavam para tomar uma cerveja ou ir ao shopping, mas dizia que não ia porque precisava descansar. Mentira. Não passava dum pão duro e isso até atrapalhava suas relações sociais.
Ao perceber que ia demorar muito para juntar o dinheiro para comprar a moto e para a sua promoção sair, começou a pensar em outras formas de concretizar seus sonhos. Não podia fraudar o sistema, nem roubar, isso lhe custaria anos de prisão. Pedir emprestado também não, como ia devolver o dinheiro?
Marinho sabia que haviam pessoas que possuíam muitos bens materiais e outras em situação pior que a dele, pois nem tinham emprego fixo. Então, consolava-se, ao menos com a carteira de trabalho registrada. Sem alternativas, continuava economizando. Tinha consciência de que não valia a pena gastar mais da metade do seu salário nos botecos, numa boate ou para sair com uma garota que, no outro dia, nem se lembraria dele.
Mas havia algo que Marinho gostava muito e entendia com autoridade: o futebol Nos fins de semana, ia aos campos, acompanhava a rodada completa do Campeonato Brasileiro e não perdia os programas de debates na TV. Se não tivesse futebol, não haveria fim de semana. Na segunda, como de costume, encontrava os amigos e só falava disso.
O destino de Marinho quase mudou para sempre e quase, eu disse quase, ficou milionário quando foi pagar umas contas de casa. Como morava com a avó, ela, às vezes, lhe dava dinheiro para pagar a água e sobrava algum “troquinho”. Coisa mínima, como um ou dois reais. Ele juntava mais um pouco, até dar cinco, e depositava na caderneta de poupança, numa lotérica.
Neste dia, sua avó deu-lhe dez reais para pagar uma conta de R$ 8,50, ele podia ficar com o troco. Então, se lembrou de que, na próxima semana, ia acabar a Copa do Mundo e o Campeonato Brasileiro voltaria. Sabia que os times da ponta da tabela não queriam vacilar na primeira rodada, os da intermediária se esforçariam para alcançar os da ponta e os lanternas, devido ao desânimo, afundariam ainda mais. O prêmio principal da loteria esportiva pagava dez milhões acumulados e os ganhadores do segundo prêmio dividiriam dez mil reais. A diferença era muito grande, mas a aposta custava apenas um real. Não gastaria nada mais que isso.
Marinho pegou um bilhete da loteria. No alto da cartela, estava escrito: “Ganhe acertando os resultados de 13 ou 14 jogos!”. Isso era muito difícil porque havia times fortes enfrentando os fracos. Guardou o bilhete no bolso e foi embora, ia acompanhar pela TV e nos jornais como os times estavam se preparando. Isso lhe daria mais segurança para decidir em quem apostar.
Em sua casa, analisou o bilhete. Descobriu que a loteria esportiva funcionava assim: o apostador devia marcar o seu palpite para cada um dos 14 jogos do concurso, sendo as opções em coluna um, coluna dois e coluna do meio. Cada coluna representava um time e a coluna do meio significava que o apostador optou pelo empate. Caso optasse pela coluna um, ele coloca suas fichas no time que representa a coluna um e o mesmo exemplo serve para a coluna dois. Além disso, a pessoa tinha direito a um jogo duplo, que é a aposta em mais de um resultado num mesmo jogo e, se tivesse um pouco mais de grana, podia fazer mais duplos e triplos, que é a aposta em duas e três colunas. Independente do resultado, o apostador já estava garantido nos triplos. Além disso, o resultado do jogo apostado vinha impresso no bilhete. Não tinha como jogar errado, pensou.
No bilhete leu informações que o deixaram angustiado e tranqüilo. Soube que não estava cometendo uma infração, afinal, tinha mais de 18 anos e sabia que tudo o que fosse apostado, 7,95%, seria destinado a Seguridade Social, portanto, do seu um real, R$ 0,0795 contribuiria para acabar com o déficit da Previdência Social. Além do mais, 60% do valor total do um real, ou seja, R$ 0,60 não se destinavam à distribuição entre apostadores, somente R$ 0,40, o restante era revertido em impostos. Entretanto, descobriu que as chances de ganhar a bolada não estava somente na façanha de acertar os 13 ou 14 resultados de jogos de futebol, mas na probabilidade que tinha. Conforme estatísticas matemáticas, um simples jogo de um duplo, ao qual tinha direito, colocava-o na estatística de 1 para 85.415 se acertasse 13 jogos. O valor do prêmio era de 15% do valor de 40% das apostas. Caso fosse predestinado a ficar rico e acertar 14 jogos, levando 70% do valor total de 40% da apostas, Marinho seria um em 2.391.485.
E os outros 15%? Ele descobriu que este percentual ficava acumulado para os ganhadores que acertassem os resultados dos 14 jogos, mas em concursos com final zero e cinco. Marinho olhou para o bilhete e descobriu que aquela rodada seria a de número 5555. Estava acumulada.
Sabia que era extremamente difícil acertar o resultado de 14 ou 13 jogos. Mesmo assim, não desistiu. Gastaria apenas um real e poderia, quem sabe, acertar os 14 pontos.
Para ter mais certeza no que fazia, foi a um quarto nos fundos e revirou uma pilha de jornais velhos. Encontrou um do começo de julho que trazia resultados e a classificação do Brasileiro da Série A e B. Tirou o bilhete do bolso e avaliou time por time, pontos, campanha, vitórias, derrotas, gols, saldos e artilharia. Cada time possuía um fator positivo ou negativo. Com as informações, avaliou o favoritismo para cada partida.
Após muita análise, detalhou jogo por jogo e a campanha dos times que se enfrentariam. Seu jogo foi o seguinte:

Coluna 1 para CRUZEIRO X CORINTHIANS
Coluna 1 para SÃO PAULO X GRÊMIO
Coluna do meio para SÃO CAETANO X BOTAFOGO
Coluna 2 para FIGUEIRENSE X SANTOS
Coluna do meio para FLUMINENSE X JUVENTUDE
Coluna 1 e do meio para ATLÉTICO MINEIRO X SANTO ANDRÉ
Coluna do meio para BRASILIENSE X AVAI
Coluna do meio para ITUANO X PAYSANDU
Coluna dois para CEARÁ X MARÍLIA
Coluna dois para CRB X CORITIBA
Coluna do meio para VILA NOVA X SPORT
Coluna um para GUARANI X GAMA
Coluna um para ATLÉTICO PARANAENSE X FORTALEZA
Coluna um para INTERNACIONAL X PONTE PRETA

Suas apostas eram coerentes e, para não amargar uma zebra, apostou na coluna do meio, num jogo entre um time que disputa a ponta da tabela contra outro na beira do rebaixamento para a Série C: VILA NOVA X SPORT. Sabia que o Sport era favorito, mas, como “o futebol é uma caixinha de surpresas”, apostou na zebra e marcou empate. Quanto aos outros jogos, sabia que nada podia dar errado. Suas apostas foram em times que estão crescendo no campeonato e que não deixariam o título escapar. Tinha a impressão que os resultados haviam sido dados de mão beijada. Mas ainda não estava seguro em relação ao jogo entre o Vila Nova e o Sport.
No outro dia, Marinho trabalhou a manhã toda com um sorriso misterioso nos lábios, pensando no que faria se ganhasse a grana.
Meio-dia. Deu um real para a moça do caixa, que autenticou a aposta. Estava feito. Devia aguardar até quinta à noite, quando terminava a rodada, para saber se ia ou não ficar milionário.
Na quarta, voltou o Brasileirão. Como nesse dia o jogo não seria televisionado e havia teria que escutar pelo rádio. Mas por ironia do destino, o aparelho estava quebrado. Foi dormir, na esperança de que seus times ganhassem. No outro dia, angustiado, Marinho esperou o horário do almoço e, com o bilhete em mãos, foi a uma banca conferir os jogos. Acertou todos. Não acreditava que a rodada havia sido tão proveitosa.
Faltando apenas cinco jogos na quinta, Marinho despediu-se de Zezinho e foi para casa. Emprestou dois rádios e às 20 horas escutou a mensagem: “Encerra-se aqui a Voz do Brasil”. Sabia que, naquela noite, sua vida podia mudar. Faltavam cinco jogos, três estavam acontecendo e os outros dois começariam as 21horas e 45 minutos. Com dois rádios ligados para não perder nenhuma jogada, ouviu, com amargura, a vitória do Ituano sobre o Paysandú por 2 a 0. Não podia desanimar. Faltavam dois jogos: a derrota do CRB para o Coritiba e a aposta do empate entre Vila Nova e Sport. Quem sabe faria 13 pontos.
Quando os outros jogos começaram, tudo parecia sonho. No final do primeiro tempo, estava quatro a zero para o Coxa e o empate entre o Vila Nova e Sport parecia certo.
Aos 45 minutos do segundo tempo, o juiz apita o encerramento do jogo CRB 0 x Coritiba 4. Só faltavam três minutos para acabar o jogo entre o Vila Nova e o Sport e ele ficar rico.
Mas aquilo que parecia certo se transformou em apenas dez segundos. Quando o jogo estava para acabar, o Sport ganha um escanteio. Batido o cruzamento, a bola encontra a cabeça de Fumagali, atacante do Sport, que faz o gol, finalizando a partida e o sofrimento de Marinho: Vila Nova 0 x Sport 1. “Que azar”, pensou. Apostou certo, mas quando escolheu uma zebra, o time favorito faz o gol da vitória nos últimos segundos de jogo.
Convencido de que a vida nos reserva muitas surpresas e de que, no último instante, as coisas podem se transformar radicalmente, Marinho, hoje em dia, pensa muito antes de tomar alguma decisão ou mudar de opinião a respeito de algo que é quase certo. Aprendeu que o ditado “Nunca se deve mexer em time que está ganhando” é verdadeiro e criou um novo: "Nunca aposte no empate se um time está lutando para ser o líder da tabela".

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O populismo.

Em 2002, o ex-operário Luís Inácio Lula da Silva, vencia as eleições presidenciais no Brasil depois das derrotas para Fernando Collor de Melo em 1989 e FHC em 1994 e 1998. Lula, a exemplo de FHC, não têm um opositor representativo e caminhou facilmente para um segundo mandato. A política, antes dominada pelas elites oligarquicas, muda o perfil e cria espaços para um novo tipo de líder: o populista carismático.
O fenômeno, tão temido e perseguido por quem detêm o poder econômico e político é de grande importância para as classes sociais menos favorecidas. O motivo, segundo sociólogos, é a identificação do eleitor com o político, muitas vezes oriundo das classes sociais mais baixas (a exemplo de Lula) e pela aplicação de políticas voltadas aos mais pobres. Essa conquista atende as necessidades do povo, já que a corrupção toma conta dos partidos e das instituições, que estão sem nenhuma ou pouca credibilidade. O populismo é tão crescente na América Latina, que muitos países estão a caminho dele ou adotando-o à sombra de lideranças indígenas. Isso é positivo e falta ao Brasil se dar conta desta realidade. Também, é necessário explicar, que não se deve confundir a elevação de indígenas a cargos políticos em países que têm grandes parcelas de índios, mestiços e crioulos como algo absurdo. O exemplo é a conquista da democracia, pois os índios estão sabendo em quem votar para que haja maior representação política.
O populista, conhecido como “pai do povo” ou “pai dos pobres” esta presente nas classes C, D e E, que há tempos são enganadas e exploradas pelas elites. Eles ganham confiança e votos desta maioria. Por outro lado, muitos populistas são demagogos, tem posturas radicais, ameaçam a estabilidade econômica com medidas que espantam possíveis investidores, empresas e indústrias que poderiam criar renda e emprego para os pobres e eliminar de uma vez por todas o assistencialismo.
Sabe-se que o populismo está em curva de ascensão não por ideologias ou orientações partidárias, mas, como já dito, pela identificação do povo com estes políticos e por este, angustiado com sua pobreza, esperar uma solução imediata para seus problemas. O povo perdeu a confiança nas elites, que ao chegarem ao poder, criam leis e trabalham em benefício próprio.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

HORROR!!!

Hoje acordei de manhã e li no jornal que mais uma pessoa foi assassinada.
Foi a tiros, naquela rua movimentada onde as prostitutas se vendem por cinco reais,
e os viciados se drogam dia e noite.
Isso já é normal.
Estou acostumado com bombas, tiros, sangue e destruição.
Ligo a TV e vejo guerras, mortos, feridos, inocentes perturbados e vidas despedaçadas.
Para os poderosos, a vida inocente vale menos que ideologias, capitalismo e religião.
Ando preocupado.
Na rua posso levar um tiro, uma facada, ser assaltado ou atropelado.
Tenho medo de ataques aéreos, ameaças nucleares, bombas químicas e de hidrogênio.
Ainda ontem vi profetas do apocalipse, terroristas e agentes do medo.
Não tenho paz.
Não tenho sossego.
Aonde vou ouço falar de AIDS, Newcastle, aftosa, dengue, febre amarela e ebola.
A violência é tão grande que os ataques mortíferos, as emboscadas, o estupro, o tráfico, o homicídio, o latrocínio e a prostituição são lugares comuns e triviais.
Tenho medo da inflação, da instabilidade da moeda, da alta do petróleo e do desemprego.
Não quero morrer violentamente através de pistolas, revólveres, granada ou facão.
Em tiroteio de bala perdida de polícia ou de ladrão.
Esse é o horror!
Quando o medo é maior que a vida, isso é horror!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Infelizmente na favela é assim...

Com dificuldade para comprarem um terreno, construírem suas casa e pagarem as prestações, 20 famílias que vagavam pelas ruas em barracos de lona resolveram invadir uma propriedade que fazia parte dum sítio. O dono das terras foi indenizado pelo estado, o que tornou a invasão um sucesso, atraindo para lá outras pessoas que também não tinham para onde ir.
Romualdo, sua mãe e irmã foram seus primeiros moradores. De braço firme e forte, trabalhava como servente de pedreiro e gostava muito do que fazia. Orgulhava-se de ter construído, com as próprias mãos, a casa de dois quartos, sala conjugada com cozinha e banheiro, onde morava.
Sensato e do tipo que não mede esforços nem economiza força física nos serviços braçais, era bom em bater massa de concreto, carregar tijolos, quebrar pisos e parede. Quando aparecia uma oportunidade para ganhar dinheiro que lá estava ele com sua pá, marreta ou colher de pedreiro.
Hoje o Buraco Fundo — chamado assim por estar localizada em uma depressão próxima a um rio — tem mais de sete mil habitantes ou 1.200 famílias, distribuídas em casas de madeira, alvenaria, lona ou madeirite.
Os problemas desse lugar aumentaram na mesma proporção de seu crescimento. A favela, que abrigava miseráveis e desempregados, se transformou num local propício à criminalidade. O Buraco Fundo, habitada por famílias humildes, virou um caos devido aos assaltos, roubos e homicídios. Lá se parecia em muito com o inferno.
Romualdo tinha na memória o dia que um rapaz entrou na casa dum morador, desligou a TV, colocou-a debaixo do braço e saiu como se nada estivesse acontecendo. Os roubos eram feitos assim, à luz do dia. A lei era imposta pelo crime e pelo medo.
Lá era tão perigoso, que os caminhões que abasteciam o comércio dificilmente entravam no bairro. Os marginais ficavam escondidos esperando, por exemplo, pelos entregadores de leite. Depois da ação, não sobrava leite nem dinheiro. Para uma encomenda chegar a seu destino, a polícia precisava ser avisada do horário da entrega a fim de escoltar o caminhão.
No Buraco Fundo, as modalidades de crime não se restringiam a assaltos e furtos a casas e estabelecimentos comerciais. Havia também os que atacavam os coletivos. O estado de calamidade chegou a tal ponto que os ônibus pararam de entrar no Buraco Fundo e os seus moradores eram obrigados a caminhar mais de um quilômetro para embarcar.
Não suportando mais essa situação, a população se uniu para eliminar a violência. Organizaram-se secretamente e decidiram que a ética e a moral seriam os principais lemas na favela. Não tolerariam mais as infrações que tanto prejudicavam os que se sacrificavam para comprar seus bens. Por unanimidade, a assembléia decidiu puni-los com a expulsão. Caso não saíssem, suas casas seriam incendiadas com tudo dentro. Isso serviria para que os “pilantras” parassem de amedrontar os moradores e sentissem na pele o horror proporcionado por essas ações violentas. A punição era severa, porque o sofrimento imposto pelos bandidos não era pequeno. Assim, eles saberiam que um deslize ou escorregão poderia lhes custar caro. Seria mentira se falássemos que essas medidas radicais aconteceram da noite para o dia. O combate ao crime iniciou-se com a revolta da comunidade que denunciou e identificou os criminosos. Como resultado, muitos infratores se mudaram do Buraco Fundo ou foram presos. Assim, o cidadão, pai de família, podia ir trabalhar sossegado. Ele sabia que, ao voltar, encontraria tudo como deixou. Apesar da violência ter caído a quase zero, haviam aqueles que, expulsos, guardavam ódio da associação.
Quanto a Romualdo, este sonhava em ser engenheiro civil, daqueles que constroem prédios, mansões, armazéns e barracões. Sua vontade era imensa. Quando não estava nas assembléias ou se dedicando a alguma obra, aproveitava para ler tudo o que encontrava. Adorava matemática, português, história, geografia, literatura e, principalmente, Ciências Sociais. Seu engajamento na associação dos moradores mostrava o seu interesse pelos problemas sociais, como exclusão, fome, miséria, criminalidade, ou seja, pelos distúrbios causados pelo capitalismo.
Nas reuniões, sempre tinha uma opinião a dar quando o assunto era os problemas da comunidade. Parecia um professor ou um orador expondo suas idéias a uma interessada platéia. Um dos temas que mais abordava era a exclusão social. Ao ler os livros de sociologia que ganhou dum estudante, viu-se na situação retratada pelo autor: um ser excluído socialmente e, devido ao sistema capitalista, obrigado a ganhar pouco para que a inflação não aumentasse. Revoltava-se e os ataques ao capitalismo ficavam claros em seus discursos.
A platéia se envolvia logo com suas palavras, pois aqueles “personagens excluídos” eram eles e aquela situação, a sua realidade.
Para os que haviam morado na zona rural, Romualdo explicava de maneira inflamada que o capitalismo era o responsável por colocá-los à margem da sociedade e levá-los para as favelas.
— O modo de produção capitalista covardemente tirou o trabalhador do campo. Eles nos degradaram e mudaram nossos costumes. Muitos de nós fomos obrigados a trabalhar somente pela comida — discursava Romualdo.
Com a retórica de um político, emocionava seus ouvintes. Era só tocar na palavra capitalismo que os olhos dos que estavam na platéia brilhavam. Quando dizia que muitos morreram pela ambição e crueldade desse sistema, eles se transformavam. Sua inspiração era Marx.
— Devemos destruir quem vive à sombra do capitalismo para que o homem possa viver em harmonia.
Era assim em todas as assembléias. Ele tinha a convicção de que havia formas de melhorar as condições sociais dos miseráveis.
O Buraco Fundo deixou de ser um local perigoso. Agora, reinavam os debates e as discussões políticas.
Com o tempo, a violência quase desapareceu e o povo estava mais interessado em resolver outros problemas. Romualdo percebeu que deveria ser menos teórico e idealista e partir para a prática. Tinha que propor algo novo para aquela população pobre, mas feliz, que sofria com a miséria e tentava de todas as maneiras se enganar. O que fazer? Com os amigos, passou a pensar em soluções.
Ele sabia que, se houvesse escolas no bairro, elas ajudariam a resgatar os jovens. Eles se qualificariam e, no futuro, não estariam na fila dos desempregados ou mortos em alguma “quebrada”.
— É o que falta — deduzia.
Da mesma maneira que se organizaram para eliminar os problemas de furto, poderiam agora trazer educação, posto de saúde e creche à favela. Romualdo, que não largava a colher de pedreiro, discutia, nas obras, alternativas para mudar de uma vez por todas a cara do Buraco Fundo.
— Quem sabe, poderíamos começar mudando o nome do bairro.
Foi assim até a tarde daquele domingo sangrento.
Romualdo e dois amigos estavam no bar conversando sobre o sonho da escola, quando Santos, um marginal que teve a casa incendiada e nutria um ódio mortal por Romualdo, ficou sabendo, que o mesmo estava reunido com alguns de seus algozes. Não pensou duas vezes e com muita ira, carregou dois revólveres 38 e montou em sua moto para dar um desfecho na sua maldição. Encostou a mesma na calçada, chegou de mansinho e cumprimentou Romualdo que, surpreso, apenas o olhou com reprovação. Foi o que bastou. Aquela recepção negativa fustigou Santos. Ele imediatamente perguntou a Romualdo, porque ele lhe olhava daquela maneira.
- Já disse que não era para você aparecer aqui no Buraco Fundo. Você é um bandido maldito que teve como lição sua casa incendiada. – Disse Romualdo.
Apenas estas palavras serviram para que o ódio se transformasse em horror. Como num filme de wester, Santos sacou os dois revólveres e com uma arma em cada mão deu um tiro fulminante na cabeça dum amigo de Romualdo e com a outra arma, na mão esquerda, não teve dó nem piedade e acertou o pescoço do outro amigo de Romualdo. Os dois caíram no chão sem vida. Com o barulho ensurdecedor, Romualdo se assustou e tentou em vão salvar a sua vida correndo pela rua. Na sua cabeça, tinha a visão recente dos dois corpos ensangüentados caindo já sem vida alguma. Isso durou pouco. Santos, como um pistoleiro, de longe acertou as pernas de Romualdo, que já sem forças para correr, levou mais um tiro nas costas. Santos então se aproximou e olhou bem fundo nos olhos daquele que um dia foi seu algoz. Sabia que somente a vingança poderia lavar a sua honra e, fazia aquilo por não ter ganhado o perdão. Então, com a platéia toda a assistir aquele festival de horrores, Santos descarregou as duas armas, desferindo todos os tiros contra a irreconhecível face de Romualdo. Santos fez o sinal da cruz, benzendo-se para que o espírito de Romualdo não o atormentasse. Acabava ali o martírio de Romualdo
O sonho de Romualdo de transformar o Buraco Fundo num lugar com escola e sem violência, acabou-se num acerto de contas. Ele foi vítima dum sistema cruel onde prevalecia a lei do “dente por dente e olho por olho”.
A tristeza causada pela morte de Romualdo foi grande, mesmo assim, os moradores não se intimidaram. Os antigos companheiros sempre lembram do amigo idealista que sonhava em trazer a paz para a favela.
Hoje, Santos paga pelo crime bárbaro que cometeu e, no Buraco Fundo, a esperança não acabou. O lugar, que antes era conhecido pelo crime e pela violência, mudou até de nome, agora se chama Jardim Romualdo.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A paciência é uma virtude.

Simão sai de sua casa na periferia para mais um dia a procura de emprego, ou até quem sabe um trabalho. Todo o dia lê anúncios de jornais, vai a agências de empregos, envia currículos para empresas e metalúrgicas. Às vezes é chamado para testes e entrevistas, porém nunca passa e volta triste para casa. Órfão de pai encontra seu irmão mais novo com gripe e sua mãe deitada na cama devido a um derrame que a paralisou. A única fonte de renda para sustentar a família vem dum salário mínimo da pensão do pai, que morreu devido a problemas cardiovasculares. Não tendo emprego, sem artifícios ou modos para arrumar dinheiro e comprar comida, idealiza alternativas no crime para garantir o sustento. Pensava em realizar assaltos, furtos ou traficar. Era pensamentos que devia afastar para seu sofrimento não aumentar ainda mais, fazendo-o perecer anos na cadeia, ou encerrar sua vida, sem que esteja presente para cuidar da mãe e do irmão. Infelizmente Simão não é o único adolescente propício a entrar na vida do crime para “arrumar uma moeda”. A realidade do crime e do desemprego é notada em vários lugares, principalmente nas camadas mais baixas e pobres da população. Os mais pobres são duramente maltratados, discriminados e marginalizados por quem se encontra em diferentes posições sociais ou topo da pirâmide social. Os mais pobres são reconhecidos como exercito de reserva, onde a parcela mais rica se aproveita pagando baixos salários e aplicando duras restrições trabalhistas aos que temem perder o emprego. É nesta sociedade que a burguesia aproveita para meter a mão no que é público, através de barganhas e acordos com políticos que se cria o ambiente propício ao crescimento do crime como forma de sustento e trabalho para quem é discriminado e marginalizado. Consciente que é um sujeito pobre e parte da camada explorada pela burguesia, Simão sabia que os mais ricos são vítimas freqüentes de seqüestros e tinham as residências assaltadas por marginais inconformados com a situação da roubalheira contra os mais pobres. Não sabia o que fazer. Por mais digno que fosse a vida honesta, se via tentado a cometer um crime de grandes proporções que aparecesse até no jornal. Seria ele, Simão, com venda no rosto, fuzil em baixo do braço. Daria entrevista exclusiva na Globo após o seqüestro da dondoca. Dava risadas de papo para o ar e imaginava a dondoca deitada no chão cheio de baratas e ratazanas, comendo sobra de marmitex com garfo de plástico. Logo tentava afastar essas idéias da cabeça e se arrependia lembrando que o crime não compensa. Pensava novamente em arrumar um emprego honesto, não ir para cadeia ou morrer em confronto com a policia.
Simão foi testemunha. Viu amigos morrerem seduzidos pelo crime. Na lembrança jovens que um dia foram crianças e brincavam com inocência na época da infância. Quando adolescentes, estampavam os jornais com noticias sangrentas de tiroteios, assassinatos, tráfico de drogas, seqüestros, crimes violentos e hediondos. Lembrava com saudades do Marquinhos Bala. Camarada que ia junto para escola que e jogava bola na quadra. Bala era um sujeito legal. Malandro como si só, atuava como atacante. Sonhava ser jogador de futebol, ganhar dinheiro e atuar na Seleção Brasileira como Pelé, Zico ou Maradona. Tinha papo com as garotas e catava todas. Numa dessa conheceu uma burguesinha, a Patrícia. Ambos tinham 15 anos e começaram a ficar juntos. Ele morava na periferia e ela, filha de empresários, morava num apartamento do centro. Era loira dos olhos azuis e caiu na conversa do Bala. A Patrícia gostava de ir aos points da cidade e aprendeu a fumar maconha, no parque central junto com alguns boys. Acabou levando o M. Bala com ela. No começo ele relutava, mais para não perder a mina, se envolveu com as drogas. O pior ainda estava por vir. Logo se tornou dependente e a mina largou dele, porque na sua concepção, ele não lhe daria futuro algum. Bala adquiriu o vicio e não tinha grana para comprar maconha. Começou a traficar. Num dia em que as coisas não estavam boas para ele, Bala, numa disputa por tráfico de drogas acertou três tiros num cara da quadrilha do Santana e acabou matando o sujeito. O Santana, que era o chefe da quadrilha, jurou o Bala de morte e queria de tudo qualquer jeito fazer um acerto de contas e matá-lo. Num domingo à tarde, uns caras desconhecidos foram até a biqueira do Bala para comprar fumo. O chamaram e disseram que moravam no centro e que lá estava “magro”. Sem despertar a desconfiança, os caras perguntaram se podia fumar ali na frente da sua casa. A resposta foi afirmativa, os caras começaram a fumar e conversar trivialidades. De repente, quando Bala estava de costas para a rua e entretido na conversa, passa uma moto e efetua vários disparos no Bala. Foram vários tiros que atravessaram sua mão e a atingiram de cheio seu rosto. Nada pode ser evitado. Bala morreu agonizando numa tarde de domingo fumando maconha no meio da rua. Alvejado por vários disparos de arma de fogo, não deixou nada para a família, apenas desgosto e decepção. Quanto à droga, levou dele o que tinha de mais importante: sua vida.
Toda vez que pensava em fazer algo de errado, Simão se lembrava da figura alegre do Bala, grande atacante do time de salão, que teve a vida abreviada pelo tráfico de drogas. Era bom, mas pobre. Um dia sonhou que podia ter um futuro promissor nos campos de futebol. Deixou-se levar pelas falsas e mentirosas ilusões burguesas. Bala retratava o exemplo prático de que os jovens que se envolvem com drogas morrem cedo e sua trajetória confirmou as estatísticas que são nas camadas mais pobres e nas pessoas menos favorecidos, que a criminalidade tem poder de crescimento rápido. A afirmação é tão verdadeira e cheia de verdades, que se cruzarmos dados do desemprego, com o da criminalidade, chegamos à conclusão que ela cresce cada vez mais nas zonas periféricas dos grandes centros, conforme a proporção do número de desempregados. Para ser ter uma noção de como é baixa a oferta de empregos, uma agência de empregos numa cidade Latino Americana, com quase meio milhão de habitantes, atende a média de 450 a 500 pessoas por dia a procura de emprego. No entanto, a média mensal de contratação não chega a 300. Isso representa que nem 5% dos desempregados consegue trabalho. Ao tomar consciência dessas informações, ficava desesperado. Achava isso injusto. Sabia que não era qualificado. Procurou um curso para não ficar o resto da vida desempregado. Lia cartazes, murais dos terminais de ônibus, ia às escolas profissionalizantes, mas sempre achava uma dificuldade. Até num dia que ia a pé, em busca de emprego e vê um cartaz com vagas para curso técnico de mecânica e eletrônica. Matriculou-se com esperanças de concluir o curso e arrumar uma vaga no tão disputado mercado de trabalho.
Foram seis longos meses de estudo diário, ao qual se dedicava. Aprendeu a soldar, consertar aparelhos eletrônicos, executar projetos e até o registro profissional no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura. Seu esforço era tão grande, que ia a pé para o curso e dependia da comida servida na escola, que consistia em sopa, carne moída com polenta ou arroz com feijão e carne de soja. Não era algo de se reclamar. O alimento o nutria e lhe dava forças para estudar.
Com o canudo na mão, Simão procurava emprego, mas não conseguia. Ia de porta em porta, em metalúrgicas e fábricas em busca dum emprego. Tinha fé e antes de sair de casa, pensava consigo mesmo: é hoje que levo comida para casa. No entanto, junto com as esperanças, acabava o dinheiro que sua mãe ganhava para o sustento da família. Na sua cabeça turbilhões de idéias transformavam seus pensamentos. O que era ruim e afastou com o ingresso no curso, aos poucos voltava a sua mente, que agora era astuta e prodigiosa.
Num dia desses qualquer apareceu uma chance de ganhar dinheiro fácil. Voltava para casa após mais um dia exaustivo atrás de emprego, quando surge a sua frente dois amigos envolvidos no crime e especialistas na prática de furtos. Era o Dézinho e o Mama. Dézinho tinha a mesma idade de Simão e Mama era um ano mais velho. Estavam numa moto muito bonita que chamou a atenção de Simão. Sabiam que Simão fez curso de eletrônica e perguntaram se conhecia alarmes e coisas deste tipo. Mostrando interesse, Simão disse que sim.
- No curso me ensinaram a montar, desmontar, travar e destravar vários tipos de alarmes, inclusive os de residências e de carros. – Disse.
Satisfeitos, os bandidos perguntaram se ele gostou da moto. Ela era preta, tinha as rodas pintadas da mesma cor e algumas peças cromadas. Sem entender, ele diz que a moto era muito bonita. Dézinho pergunta se ele imaginava quanto valia a máquina. Falou que não fazia mínima idéia. Mama afirmou que foi comprada a vista por cinco mil e que se Simão quisesse, dava a moto para ele. Mas como? Imaginou. Mama sai da garupa e fala para Simão subir para darem uma voltinha. Simão colocou o capacete e subiu. Mama ficou esperando, Dézinho falou para Simão segurar e acelerou o máximo que pode. Pegou mais de 120 km/h. A adrenalina de Simão aumentava de acordo com a rotação do motor. Dézinho perguntou novamente para Simão se ele gostou da moto e queria ela de presente. Falou que sim. Mama disse que precisariam dum favor: desativar o alarme duma Pajero. A GrandCaravan valia mais de duzentos mil e seria vendida por cinqüenta mil no Paraguai. Dézinho falou para Simão subir na moto, pois iriam levá-lo para casa. Deveria pensar na proposta e de manhã passavam na sua casa para saber a resposta.
Simão viu muita gente se envolver no crime, ganhar dinheiro e até morrer. Via sua mãe doente em casa, mas alegre com sua chegada. Perguntou ao filho o motivo da demora. Respondeu que fez uma entrevista de trabalho e demorou porque encontrou uns amigos e parou para conversar.
Aquela noite foi diferente. Sua mãe falou para se aproximar, queria um abraço do filho. Estava preocupada. Mal sabia que o filho planejava algo. Quanto a Simão, que tinha no rosto um certo grau de preocupação, logo escondeu a face pela escuridão da sala e entrou no quarto para repousar. Inquieto e seduzido pela proposta, rolou a noite na cama. Não dormia. Nos pensamentos se via com um capacete preto com labaredas de fogo e uma roupa toda negra acelerando a motocicleta tão desejada. Voltava à realidade e sabia que roubar não era certo e dava até cadeia. Não sabia se deixava se levar pela cobiça e ganância, atingindo seus objetivos, ou agia honestamente, mesmo que não conseguisse nada em troca. Eram dilemas que pensava e que podia sair arrependido, seja qual fosse à decisão tomada.
Amanheceu e Dézinho, numa moto e Mama em outra, buzinam. Dézinho pergunta o que decidiu. Olhando nos olhos do amigo disse que não ia porque sairia em busca de emprego. Mama falou para deixar de ser burro e andar logo. Mais uma vez negou e disse que isso podia era arriscado e levá-los a cadeia. Insistiram e ameaçaram. Com medo, entrou para casa e esperou irem embora.
Um pouco arrependido por não fazer a “correria”, mas aliviado por levar uma vida digna, Simão sai de sua casa na periferia para mais um dia a procura de emprego, ou quem sabe um trabalho. Como todos os dias, preparou alguns currículos e foi mais uma vez caminhando atrás de um emprego, talvez hoje desse certo, pensava. Andou bastante, mais de quinze quilômetros. Deixou currículos em fábricas, lojas, metalúrgicas, empresas, agências de empregos, supermercados, fábricas de roupas, estabelecimentos com anúncio em jornal, transportadoras e onde mais visse possibilidades de contrato. Chega em casa, dá um abraço na mãe e liga a TV. Para sua surpresa vê Mama e Dézinho algemados no distrito policial. Esboçando reação de espanto, soube que foram interceptados e presos numa Pajero furtada. Ao ver a cena dos dois algemas, um peso saiu das costas e teve consciência de que tudo que fez, ou não fez, lhe custaria muito caro: sua liberdade. Isso não tem preço e é impossível pagar. Sabia que mesmo a conquista de objetos mais caros do mundo, não valiam mais que a liberdade do homem.
O destino nos arma cada coisa, mas não por estar escrito, mas conforme somos, porque somos nós que fazemos o nosso destino. Simão jantou e foi dormir pensando como arrumar dinheiro para comprar carne. Acordou de manhã pela vizinha que foi avisar que uma metalúrgica na qual entregou currículo, estava contratando para inicio imediato, pessoas com curso de eletrônica para atuar na linha de exportação. Naquele momento Simão viu que o homem honesto que se esforça e persiste nos objetivos, sempre alcança o que busca. Descobriu que os que tem prudência e paciência, de alguma forma recebem uma recompensa.